Com apenas um mês e meio de Governo, Javier Milei entra para história da Argentina como o presidente que mais rapidamente teve uma greve geral organizada contra as suas políticas. CGT fala na presença de cinco milhões de pessoas nas ruas de todo o país.
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Milhares de pessoas saíram à rua, esta quarta-feira, em Buenos Aires e outras cidades argentinas, para lutar contra o que acreditam estar a ser o desmantelamento do Estado, promovido pelo presidente Javier Milei. Enquanto o novo Governo ultraliberal avança com uma reforma que poderá ter efeitos drásticos na economia, sindicatos, organizações sociais, políticos da oposição e outros grupos de diferentes quadrantes da sociedade fizeram uma greve de doze horas (que começou às 12 horas locais de quarta-feira, 15 horas em Portugal continental) contra as medidas através das quais Milei pretende desregulamentar a castigada economia argentina.
"A pátria não está à venda" foi uma das frases mais entoadas em frente ao Congresso, onde a Confederação Geral do Trabalho (CGT), a maior central sindical da Argentina, convocou uma marcha para acompanhar a greve geral. A multidão reuniu-se na Avenida de Mayo, artéria do centro de Buenos Aires que liga o Congresso à Casa Rosada, sede do Executivo.
Estiveram presentes milhares de camionistas, trabalhadores da área da saúde e funcionários de repartições públicas, mas também aposentados, inquilinos, associações de teatro, editoras de livros, ativistas ambientais e defensores dos direitos das pessoas com deficiência.
A manifestação foi recebida com um grande destacamento das forças de segurança, depois de o Governo ter implementado um protocolo de ação contra protestos, que ameaça prender manifestantes que bloqueiam estradas e pode obrigar as organizações sociais convocadas a pagar as despesas operacionais da Polícia.
A CGT estimou que 80% dos seus membros (cerca de cinco milhões de pessoas) aderiram à greve em todo o país. A Federação dos Trabalhadores estimou que 600 mil pessoas se mobilizaram em Buenos Aires durante a marcha, enquanto 1,5 milhão o fizeram em todo o país. No entanto, a ministra da Administração Interna, Patricia Bullrich, informou que havia apenas 40 mil manifestantes nas ruas e o chefe de Polícia da capital, Diego Kravetz, estimou a adesão de 80 mil participantes, em declarações à Imprensa. Os ecos do protesto foram ouvidos em todo o país e também chegaram a outros países, como Itália, onde um grupo de manifestantes se juntou em frente à embaixada argentina em Roma.
A ministra considerou que o impacto da medida foi "mínimo" se comparado com o número de pessoas que "decidiram ir trabalhar". "Recebo imagens de todo o país aberto e a trabalhar", disse Bullrich. "Não somos encurralados por ninguém, muito menos por uma marcha de 40 mil pessoas. São 0,5% de oito milhões de trabalhadores, isso não existe", sublinhou.
Esta é a primeira greve que a principal central sindical do país convoca em cinco anos: a última foi em 2019, durante a liderança do conservador Mauricio Macri. A greve é uma resposta de repúdio às medidas que o Governo de Milei tem imposto desde que chegou à Casa Rosada, fazendo com que o presidente entre para história do país como o líder que mais rapidamente teve uma greve geral organizada contra as suas reformas.
Os sindicalistas esperam que a greve e a manifestação ajudem a convencer os deputados da oposição a não apoiar as reformas previstas pelo presidente. "Pedimos aos deputados que tenham dignidade e princípios. Que não traiam os trabalhadores, os aposentados, os que menos têm", apelou o sindicalista Pablo Moyano, esta quarta-feira, num palco montado junto ao Congresso. O objetivo principal, segundo os manifestantes, é que não se aplique o DNU, sigla do Decreto de Necessidade e Urgência, e da mencionada lei de desregulação da economia.