Quase seis milhões de burros são mortos, todos os anos, para lhes ser retirada a pele, muito usada na obtenção de uma gelatina aplicada na Medicina Tradicional Chinesa. Os números são avançados no mais recente relatório da organização britânica de defesa animal "Donkey Sanctuary".
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Segundo noticia a BBC, em África, onde vivem cerca de dois terços dos 53 milhões de burros do Mundo, a regulação é variável. A exportação de peles não é legal em todos os países, mas a elevada procura alimenta o roubo destes animais. Cenário que poderá, em breve, conhecer um ponto de viragem, já que todos os estados africanos se preparam para proibir a sua exportação.
"Entre 2016 e 2019, estimamos que cerca de metade dos burros do Quénia tenham sido abatidos [para abastecer o comércio de peles]", avançou Solomon Onyango, elemento da "Donkey Sanctuary". De recordar que estes animais exercem um papel fundamental nas comunidades rurais pobres, transportando pessoas, bens e alimentos. Os crescentes roubos para fins comerciais geraram uma onda de indignação no Quénia.
Steve, de 24 anos, foi um dos grandes lesados do negócio. Dependente dos seus burros para vender água, quando ficou sem eles teve de deixar de trabalhar. Um dia saiu de casa, na capital queniana, Nairóbi, pela manhã, e não os viu. "Procurei todo o dia, toda a noite e no dia seguinte", contou à BBC. Três dias depois recebeu o telefonema de um amigo que tinha encontrado esqueletos de animais. "Foram mortos, esquartejados, não tinham pele", revelou. O caso de Steve multiplica-se por toda a África.
O motivo está bem longe, noutro continente, o asiático: a gelatina obtida da pele do burro é muito utilizada na medicina tradicional chinesa, acreditando-se que tem propriedades curativas e de preservação da juventude. As peles são fervidas para a extração da gelatina, que é transformada em pó, comprimidos e líquidos ou adicionada a alimentos.
Sem forma de sustento, Steve não esconde a preocupação. "Estou encalhado", referiu, enquanto aguarda ajuda de uma instituição local que lhe possa ceder alguns animais.