Um golpe militar, que implicou membros da própria guarda presidencial, consumou a deposição do Presidente do Níger, Mohamed Bazoum, dissolveu as instituições, revogou a própria Constituição, encerrou as fronteiras e pediu que nenhum país intervenha.
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O golpe foi imediatamente condenado pelo secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pelos Estados Unidos da América, pela Rússia, pela França e pelas organizações regionais União Africana e Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
O presidente do Benim, Patrice Talon, deverá atuar como mediador em nome da CEDEAO no Níger, cuja situação é descrita como “grave”, com os dirigentes vizinhos a apelarem a uma “ação rápida”.
O anúncio do derrubamento do Presidente Bazaum foi feito, na quarta-feira, à noite por uma junta militar do autodesignado Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria (CNSP), tendo sido imposto o recolher obrigatório entre as 22 e as cinco horas “até nova ordem”.
O aparente chefe do CNSP, coronel-major Amadou Abdramane, justificou-o com a “contínua deterioração da situação de segurança e má gestão económica e social”.
O golpe foi desencadeado ainda durante a manhã, com a Guarda Presidencial a encerrar os acessos ao Palácio e a reter no edifício o chefe de Estado, que ainda conseguiu manter conversações telefónicas, nomeadamente com António Guterres, e alertar nas redes sociais para a ocorrência de uma “manifestação antirrepublicana”.
Nesta quinta-feira, Guterres condenou “veementemente a mudança institucional” e manifestou-se “profundamente perturbado” com os acontecimentos, apelando “à cessação imediata de todas as ações que minam os princípios democráticos do Níger”.
“Todos os meios necessários serão usados para restaurar a ordem constitucional no Níger, mas o ideal é que tudo ocorra em paz e harmonia. As ações de mediação vão ser reforçadas para que esta situação se resolva em paz, entre irmãos”, declarou entretanto o mediador do CEDEAO.
Com 22 milhões de habitantes e dois terços do território desérticos, frequentemente classificado em último lugar no Índice de Desenvolvimento Humano, o Níger é um dos países mais pobres e instáveis do Mundo.
Desde a conquista da independência em relação à França, em 1960, que ali mantém um contingente de 1 500 militares e já rejeitou “qualquer tentativa de tomada do poder pela força”, o Níger já passou por quatro golpes de Estado e inúmeras outras tentativas, sendo as duas últimas contra o presidente agora deposto.
Em 31 de março de 2021, as autoridades abortaram uma tentativa de golpe militar contra Mohamed Bazoum, dois dias antes da sua posse. A segunda ocorreu em março passado, numa altura em que o chefe de Estado se encontrava de visita à Turquia.
O Níger é um dos países da região do Sahel onde organizações jiadistas estão ativas e têm realizado golpes contra vários governos eleitos, enfrentando duas ofensivas – uma no sudoeste, proveniente do Mali em 2015; outra no sudeste, com jiadistas do nordeste da Nigéria.