Soldados moçambicanos terão detido, torturado e matado dezenas de pessoas, que procuravam refúgio nas instalação da Total Energies, no norte de Moçambique, durante o auge dos ataques do Estado Islâmico no país. A revelação surge numa investigação jornalística do "Politico".
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O caso terá acontecido no verão de 2021, já depois de as instalações de exploração de gás liquefeito da Total terem sido evacuadas, na sequência do ataque do grupo al-Shabab e de o exército moçambicano tentar repelir os militantes islamitas da península de Afungi. Nas meios de comunicação, dava-se destaque aos massacres em Cabo Delgado e Palma, mas um outro terá ocorrido com a equipa de cerca de 700 militares moçambicanos, "pagos, alojados e equipados" pela petrolífera francesa em parceria com o Estado, para proteger o local onde estava a ser contruído o projeto fundamental para as pretensões da empresa em prosperar nas energias limpas.
Segundo o jornal Politico, em junho de 2021, com o som dos tiros do grupo al-Shabab a aproximar-se, um grupo de habitantes da região juntou-se, fugiu e acabou por se refugiar na base militar de Patacua, perto da entrada da refinaria de gás natural, tal como teria sido pedido pelo exército. Só que a receção, a 1 de julho desse ano, acabou por se transformar num inferno. Homens e mulheres foram separados. A mulheres foram violadas e algumas terão ficado incapazes de andar, tal a violência dos atos, e os homens acusados de pertencer ao grupo islamita. Seriam entre 180 a 250 com idade entre 18 e 60 anos. Segundo uma testemunha, um dos soldados terá dido: "não queremos nenhum rapaz ou homem. Não interessa a idade. Têm todos de ser decapitados".
Os elementos do sexo masculino foram levados para contentores numa área que está indicada como sendo protegida pelos militares moçambicanos e mantidos em reclusão, num espaço a mais de 30º, sem casas de banho e muitas vezes sem água ou alimentos. Alguns foram mortos à pancada ainda antes de entrarem no espaço, mas outros foram sendo libertados à medida que eram ilibados de qualquer ligação aos extremistas. Ao longos dos dias, vários foram mortos, à medida que eram pedidos homens para ajudar com algumas tarefa. No final, só 26 pessoas terão sobrevivido. Ainda há 40 desaparecidos, mas há registo de mortes por espancamento, tiros ou asfixia.
O caso foi revelado agora pela primeira vez e a Total Energies garantiu ao jornal eletrónico que desconhecia por completo a situação. O Ministério da Defesa de Moçambique não respondeu ao pedido de comentário feito pelo Politico. Os projetos da Total em Moçambique estão sob escrutínio em França, desde os massacres de Cabo Delgado, devido à atuação na proteção dos trabalhadores ou pela recusa em fornecer combustível aos helicópteros que participavam na retirada de civis da região.