Militares norte-coreanos participam há vários dias em operações de desminagem em Kursk, a região russa onde contribuíram para expulsar ao longo do último ano a ocupação ucraniana, anunciou o governador regional, Alexander Khinshtein.
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"Seguindo instruções do presidente [russo, Vladimir Putin], desenvolvemos um programa para reconstruir a zona fronteiriça", indicou Khinshtein, num vídeo divulgado na rede Telegram em que deu conta da participação dos "amigos norte-coreanos" nos trabalhos de desminagem, em conjunto com sapadores de Moscovo.
O governador explicou que a primeira parte do programa envolve a desminagem de territórios anteriormente sob controlo ucraniano.
"Estamos a reforçar regularmente [o grupo de sapadores] e a acelerar o ritmo do trabalho", referiu.
Kursk, que faz fronteira com a Ucrânia, é uma das regiões russas mais afetadas pela guerra.
Durante quase oito meses, parte da região foi ocupada pelas tropas ucranianas, que acabaram por ser finalmente expulsas entre abril e maio deste ano, segundo relatórios militares russos.
Moscovo reconheceu que os soldados norte-coreanos que combateram ao lado das tropas russas desempenharam um papel importante na recuperação de Kursk.
Na quarta-feira, o presidente russo, Vladimir Putin, encontrou-se com o homólogo norte-coreano, Kim Jong-un, em Pequim, no âmbito das comemorações do 80.º aniversário do fim da Segunda Guerra Mundial.
Durante a conversa, o líder do Kremlin voltou a agradecer a Kim pela assistência prestada à Rússia, enquanto o presidente norte-coreano assegurou que Pyongyang vai continuar a auxiliar Moscovo no que for necessário.
O anúncio das autoridades de Kursk sobre os trabalhos de desminagem acontece um dia depois de um ataque russo ter atingido equipas de sapadores ucranianos que trabalhavam na região de Chernihiv, no norte da Ucrânia e que foi anteriormente ocupada por tropas de Moscovo.
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, referiu-se a "um grave crime de guerra", após a morte de dois sapadores de desminagem.
As vítimas do ataque eram funcionários ucranianos do Conselho Dinamarquês para os Refugiados (CDR), uma organização que se dedica a trabalhos de desminagem naquela região e que deu conta de outros oito colaboradores feridos.
Segundo a organização não-governamental, a sua equipa realizava "atividades humanitárias puramente civis no momento do ataque, trabalhando para remover minas e resíduos explosivos de guerra", condenando igualmente "uma grave violação do direito internacional humanitário".
No mesmo sentido, o coordenador humanitário da ONU para a Ucrânia declarou em comunicado que estava chocado com o ataque que vitimou os funcionários do CDR.
"Só este ano, antes deste ataque, pelo menos quatro trabalhadores humanitários foram mortos e 34 ficaram feridos em toda a Ucrânia", condenou Matthias Schmale, sublinhando que o Direito Internacional Humanitário prevê que os civis e aqueles que os servem "devem ser protegidos, nunca devem ser um alvo".
O Ministério da Defesa russo, por sua vez, referiu-se à "destruição de um ponto de preparação e lançamento de drones de longo alcance das Forças Armadas Ucranianas" na região de Chernihiv.
Na plataforma Telegram, o ministério russo acusou a Ucrânia de "apresentar a destruição de alvos militares legítimos (...) como uma chamada 'missão civil humanitária de remoção de minas'".
De acordo com a ONU, a Ucrânia é atualmente o país com a maior área contaminada por minas terrestres e munições não detonadas do mundo.
"Os russos, primeiro, plantaram a região com minas. Agora, estão a matar pessoas, civis que arriscam a vida para limpar as nossas terras", lamentou o administrador de Chernihiv, Dmytro Bryzhynsky.
As forças russas cercaram a cidade nos primeiros dias da invasão, depois de lançarem as suas tropas a partir da vizinha Bielorrússia, aliada de Moscovo, e cuja fronteira se situa a 50 quilómetros.
Ao fim de mais de três anos da invasão russa da Ucrânia, as propostas para um acordo de paz entre Moscovo e Kiev têm fracassado, apesar das iniciativas do presidente norte-americano, Donald Trump, para aproximar as partes.
Putin exige que a Ucrânia ceda territórios e renuncie ao apoio ocidental e à adesão à NATO, condições que Kiev considera inaceitáveis, reivindicando por seu lado um cessar-fogo imediato como ponto de partida para um acordo de paz, a ser salvaguardado por garantias de segurança.
Na quinta-feira, 26 países da chamada Coligação dos Dispostos, que reúne aliados europeus de Kiev, prontificaram-se para oferecer as garantias, com apoio dos Estados Unidos, e que, segundo o presidente francês, Emmanuel Macron, implicam a presença de tropas no terreno, uma ideia já recusada pelo Kremlin.