Ministras brasileiras encontram-se na favela com familiares de vítimas de megaoperação

Durante a operação morreram 121 pessoas, segundo a polícia
Foto: Antonio Lacerda/EPA
Uma comitiva do Governo brasileiro esteve reunida, esta quinta-feira, com os familiares dos mortos e moradores dos complexos de favelas no Rio de Janeiro que foram alvo, terça-feira, da operação mais letal da história da cidade.
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A comitiva foi encabeçada pelas ministras dos Direitos Humanos e da Cidadania, Macaé Evaristo, e da Igualdade Racial, Anielle Franco.
"Se quisermos combater o crime organizado, tem que começar por cima. Não adianta chegar em nossas comunidades expondo crianças, pessoas idosas e com deficiência a esse pavor", disse Macaé Evaristo, de acordo com o Jornal Folha de São Paulo, à saída da reunião no Complexo da Penha.
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Macaé Evaristo criticou ainda a forma como a operação foi conduzida, "criando essa situação completamente absurda, expondo famílias, crianças, pessoas idosas e pessoas com deficiência ao horror, ao pavor".
"Um país do tamanho do Brasil não pode ser cada um fazendo da sua cabeça, sem planeamento. Tem que ter uma articulação federativa para a gente efetivamente asfixiar o crime organizado", disse, citada pelo portal Uol.
De acordo com o mesmo jornal, vários moradores pediram a palavra durante a reunião para exigir respostas, pedindo, nomeadamente, as imagens das câmaras das fardas das polícias que realizaram a megaoperação.
Durante a noite de terça-feira e a manhã de quarta-feira, familiares e moradores encontraram cerca de 60 corpos deixados na mata perto do complexo da Penha.
De acordo com as autoridades, essa mata seria a rota de fuga dos membros do Comando Vermelho que procuravam escapar para outras favelas.
A operação foi realizada na terça-feira nos complexos de favelas da Penha e do Alemão, numa área onde vivem cerca de 200 mil pessoas, e os confrontos estenderam-se a uma área de mata nos morros que rodeiam esses bairros.
Durante a operação morreram, segundo a polícia, 121 pessoas, foram detidos 113 suspeitos e dez adolescentes ficaram sob custódia policial. Foram apreendidas 119 armas, 14 engenhos explosivos e toneladas de droga.
Membros da organização criminosa utilizaram várias armas de fogo de alto calibre e até 'drones' com bombas para enfrentar a polícia e bloquearam, na terça-feira, várias e importantes vias no Rio de Janeiro, paralisando parcialmente a cidade.
Os dados da Polícia são inferiores aos apresentados pela Defensoria Pública do Rio de Janeiro, que referiu que 132 pessoas foram mortas, depois de moradores dos bairros afetados terem estado à procura de familiares desaparecidos e começado a reunir e expor dezenas de corpos numa praça.
Organizações não-governamentais, Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) e, o próprio secretário-geral da ONU, António Guterres, mostraram preocupação com o elevado número de vítimas.
