O general Braga Netto, ex-ministro de Defesa de Jair Bolsonaro e candidato a vice do ex-presidente brasileiro nas eleições de 2022, foi detido, este sábado de manhã, pela Polícia Federal brasileira. O político será uns dos mentores do golpe de Estado contra Lula da Silva e terá tentado obstruir a investigação.
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Braga Netto representaria um risco para a ordem pública, explica o portal "G1", depois de ter tido um papel fundamental nos atos que levariam ao assassinato de Lula da Silva e a um golpe de Estado, para evitar a tomada de posse do atual presidente do Brasil. As autoridades garantem que o militar na reserva terá participado e financiado ações ilegais, dando dinheiro a militares das forças especiais, para que participassem no plano.
A detenção deste sábado terá sido motivada pela tentativa de obtenção de informações sobre um acordo de colaboração entre Mauro Cid, antigo assessor militar de Bolsonaro, e a polícia, no âmbito da investigação ao caso. "Estão sendo cumpridos um mandado de prisão preventiva, dois mandados de busca e apreensão e uma cautelar diversa da prisão contra indivíduos que estariam atrapalhando a livre produção de provas durante a instrução processual penal", explica a polícia federal.
A ação policial prende-se com o "inquérito que apurou a tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do governo legitimamente eleito em 2022", pode ler-se num comunicado, em que não é referido o nome do militar e político, que foi também ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro. O suspeito foi detido em Copacabana, no Rio de Janeiro, e levado para instalações militares, onde ficará sob custódia do Exército, informa a "BBC Brasil".
Mandado de detenção emitido pelo juiz Alexandre de Moraes
Netto foi detido este sábado, sob ordem do juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que seria também uma das potenciais vítimas do plano de golpe de Estado e homicídio. No documento em que ordena a operação, Moraes defende que "há diversos elementos de prova que evidenciam que Walter Souza Braga Netto atuou, dolosamente, para impedir a total elucidação dos factos, notadamente por meio de atuação concreta para a obtenção de dados fornecidos pelo colaborador Mauro César Barbosa Cid, em sua colaboração premiada", revela ainda o portal "G1".
O objetivo do militar seria controlar as informações fornecidas, alterar a realidade dos factos apurados, além de consolidar o alinhamento de versões entre os investigados”. Segundo um elemento da investigação, Braga Netto será o "mentor do golpe, mas sob o comando de Bolsonaro", tendo a seu cargo a operacionalização da missão, junto de elementos dos vários ramos militares.
Bolsonaro conhecia plano para matar Lula
A Polícia Federal indiciou, no dia 21 de novembro, o ex-presidente Jair Bolsonaro pelos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa – os dois primeiros estão previstos numa lei que o próprio Bolsonaro sancionou, em 2021. Desde 2019, no início do mandato, o líder de extrema-direita e aliados difundiam teorias falsas contra o sistema eleitoral.
Após a vitória de Lula da Silva, em outubro de 2022, o general na reserva Mario Fernandes elaborou um plano com outros militares das Forças Especiais do Exército, designado “Punhal Verde Amarelo”, que tinha como alvo o presidente do Tribunal Superior Eleitoral e juiz do STF, Alexandre de Moraes. Este seria detido ou assassinado e os então presidente e vice-presidente eleitos, Lula e Geraldo Alckmin, poderiam ser mortos. O plano foi impresso no Palácio do Planalto a 9 de novembro por Fernandes, que depois se deslocou ao Palácio da Alvorada, a residência presidencial.
A conspiração foi discutida, a 12 de novembro, na casa do candidato a vice-presidente, o general Braga Netto. O documento foi impresso novamente no Planalto a 6 de dezembro, quando o chefe de Estado estava presente.
No dia 7, Bolsonaro, junto do ministro da Defesa, procurou apoio dos comandantes do Exército e da Marinha para um decreto presidencial que revertia os resultados das eleições. A aceitação apenas do então comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, foi um obstáculo para a concretização do golpe, informou a PF.
Após o conservador ter ido para os EUA, apoiantes acreditavam na possibilidade ainda do regresso ao poder ilegalmente, com a última hipótese frustrada no dia 8 de janeiro de 2023, quando o Exército não aderiu ao golpe na sequência da invasão das sedes Três Poderes.