O ministro das Finanças holandês, Wopke Hoekstra, reconheceu esta terça-feira que foi infeliz nas posições que assumiu sobre a resposta económica à pandemia de Covid-19, assumindo que mostrou pouca "empatia" com os países do sul da Europa, sobretudo no atual contexto.
Corpo do artigo
Em declarações à estação holandesa RTL Z, Wopke Hoekstra reiterou a oposição da Holanda à solução de emissão de títulos de dívida europeus (os chamados "eurobonds" ou "coronabonds"), defendida por países como Itália, Espanha e Portugal, mas reconheceu que não esteve bem na forma como expressou a sua posição, que indignou, entre outros, o primeiro-ministro português, António Costa.
12013389
"Tem muito a ver com a forma como o dissemos. Não fomos suficientemente empáticos, e isso levou a resistências. Expressámos bem o que não queríamos, mas não conseguimos fazer passar o que queremos. Eu deveria ter feito melhor", disse.
O ministro garantiu que o Governo holandês é sensível aos apelos de solidariedade dos países mais atingidos pela atual crise, "que é, acima de tudo, sanitária", e que pretende também ajudar a encontrar uma resposta, até porque uma União Europeia forte também é do seu interesse.
No seu "mea culpa" - que se restringe à forma, ainda que não ao conteúdo, pois insistiu que a mutualização da dívida reclamada por vários Estados-membros é uma má ideia -, Hoekstra comentou ainda que basta observar a "tempestade" de críticas que as suas declarações suscitaram para concluir que, "obviamente, não correu bem".
11996286
A primeira crítica mais dura à intervenção do ministro holandês durante uma reunião de ministros das Finanças da União Europeia na semana passada partiu do primeiro-ministro português, António Costa, no final do Conselho Europeu realizado na última quinta-feira por teleconferência, tendo desde então surgido várias vozes igualmente muito críticas das posições assumidas por Hoekstra.
Essas criticas surgiram sobretudo de Espanha e Itália, mas até dos parceiros de coligação no Governo holandês, que admitiram recear que as declarações de Hoekstra resultassem num "desastre diplomático" difícil de reparar.
Após a reunião por videoconferência do Conselho Europeu de 26 de março, António Costa foi questionado sobre declarações de Hoekstra, que, segundo vários órgãos de imprensa europeia, sugeriu que a Comissão Europeia devia investigar países como Espanha que alegam não ter margem orçamental para lidar com os efeitos da crise provocada pela pandemia da covid-19, apesar de a zona euro estar a crescer.
"Esse discurso é repugnante no quadro de uma União Europeia. E a expressão é mesmo essa. Repugnante", reagiu António Costa, acrescentando que as palavras do ministro holandês foram de "uma absoluta inconsciência" e de uma "mesquinhez recorrente", que "mina completamente aquilo que é o espírito da União Europeia e que é uma ameaça ao futuro da União Europeia".
11982023
No final desse Conselho Europeu, marcado por uma discussão tensa que se prolongou por cerca de seis horas, os líderes dos 27 convidaram o Eurogrupo a trabalhar, no prazo de duas semanas, em propostas concretas para uma resposta comum aos choques provocados pela pandemia de Covid-19 nas economias europeias, tendo o presidente do fórum de ministros das Finanças da zona euro, Mário Centeno, convocado uma reunião extraordinária para 7 de abril.
"O Eurogrupo vai reunir-se em 7 de abril para atuar mediante o mandato atribuído pelos lideres do Conselho Europeu e apresentará propostas para reforçar a nossa resposta, em termos de políticas a adotar na UE, à Covid-19", anunciou na segunda-feira o presidente do Eurogrupo.
Entre as soluções mais abordadas, e além da emissão conjunta de dívida, que continua a merecer a oposição de Holanda, Áustria, Finlândia e também muito pouca recetividade da Alemanha, conta-se a de recorrer a uma linha de crédito condicional do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MME), o fundo de resgate permanente da zona euro.
11978883
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da Covid-19, já infetou mais de 791 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 38 mil.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com quase 439 mil infetados e mais de 27.500 mortos, é aquele onde se regista atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 11.591 mortos em 101.739 casos confirmados até segunda-feira.
A Espanha é o segundo país com maior número de mortes, registando 8.189, entre 94.417 casos de infeção confirmados até hoje, e a França conta 3.024 mortes (44.450 casos).
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 160 mortes e há 7.443 casos de infeções confirmadas.
12003192