Ministro talibã confrontado por mulheres jornalistas após exclusão de conferência de imprensa
Três dias após serem excluídas de uma conferência de imprensa com o ministro de Negócios Estrangeiros talibã, Amir Khan Muttaqi, as jornalistas indianas sentaram-se na primeira fila num ato de demonstração de força e questionaram o governante sobre as violações aos direitos das mulheres afegãs.
Corpo do artigo
O momento foi registado num vídeo divulgado nas redes sociais e mostra Muttaqi sentado perante uma fila de mulheres jornalistas, algo incomum para um membro do executivo talibã, que é composto exclusivamente por homens e que, desde 2021, tem implementado medidas que eliminaram liberdades femininas no Afeganistão.
Na primeira conferência, realizada na passada sexta-feira, apenas homens foram convidados, ato que, segundo jornalistas, grupos de imprensa e políticos da oposição, foi visto como um insulto aos princípios democráticos e à liberdade de imprensa da Índia. A imprensa indiana "condenou veemente" a exclusão do sexo feminino e apelou à garantia, por parte do governo, de que "nenhum poder estrangeiro possa ditar os termos de participação da imprensa indiana".
O segundo encontro, no domingo, transformou-se num momento de tensão e afirmação, com as jornalistas a questionaram diretamente o representante dos talibãs sobre as restrições aos direitos das mulheres afegãs. "Porque é que estão a fazer isto no Afeganistão? Quando é que as mulheres vão poder voltar à escola e ter direito à educação?", questionou a jornalista independente Smita Sharma.
"Temos dez milhões de estudantes a frequentar escolas e outros institutos de ensino, dos quais 2,8 milhões são mulheres e raparigas. Nos seminários religiosos, esta oportunidade educativa está disponível até aos níveis de graduação, os mais elevados.", retorquiu o ministro, acrescentando que "existem certas limitações em partes específicas, mas isso não significa que sejamos contra a educação".
Contudo, para a editora de diplomacia do jornal "The Hindu", Suhasini Haider, as respostas eram "obviamente mentiras muito bem ensaiadas". "Nós sabíamos a verdade e ainda assim ele continuou a repetir a afirmação", declarou a jornalista.
"Esperávamos que o governo indiano criticasse o que aconteceu"
Sobre a primeira conferência de imprensa, o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Índia explicou que "não esteve envolvido na interação com a imprensa" realizada pelo ministro afegão. Já Muttaqi tentou justificar a ausência de mulheres na primeira sessão, explicando que "foi organizada com pouca antecedência". "Os nossos colegas decidiram enviar o convite a uma lista específica de jornalistas. Não havia outras intenções além dessa", sublinhou.
"A nossa primeira reação foi de indignação. Mas o que realmente esperávamos era que o governo indiano criticasse o que aconteceu e dissesse algo sobre o assunto", afirmou Haider. "Também se tratava de um precedente: a ideia de que o representante dos talibãs, de um governo que não é reconhecido pela Índia, pudesse vir a Deli e organizar uma conferência de imprensa sem mulheres".