Grupos perseguidos pelo Governo turco foram alvo do presidente reeleito durante a campanha eleitoral.
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A vitória de Recep Tayyip Erdogan, no domingo, foi lamentada por adversários perseguidos por Ancara. Minorias como os curdos e pessoas LGBT temem o futuro com um presidente fortalecido pelas urnas, apesar de um processo eleitoral muito contestado.
Erdogan voltou a atacar, no domingo, o ex-líder do Partido Democrático dos Povos (HDP, na sigla turca), Selahattin Demirtas, preso desde 2016 por "propaganda terrorista". O opositor ficou em terceiro lugar nas presidenciais de 2014, com quase 10% dos votos, além de ter comandado o HDP nas legislativas de 2015, quando o partido estreante conquistou dezenas de assentos.
Ao comentar a eleição, o antigo líder do HDP disse que "o público certamente aprovou a mudança, mas todo o processo foi manipulado". "Que ninguém fique sem esperança porque não fomos derrotados. Nunca se rendam. Continuem a lutar", reiterou Demirtas, acusado de ter ligações com o PKK, o Partido dos Trabalhadores do Curdistão, grupo considerado terrorista por Ancara - alegações estas negadas pelo opositor pró-curdo.
Os curdos sírios, alvo de operações militares de Ancara, expressaram deceção nos resultados. "Esperávamos que outra pessoa tivesse vencido para que eles pudessem deixar-nos em paz", lamentou Hizny Suleiman, dono de uma loja em Qamishli, citado pela agência France-Presse (AFP). "Não queremos [a Turquia] a começar uma guerra connosco, porque a região já está em estado de guerra", afirmou o comerciante Mohammed Ashraf à mesma agência.
Além dos curdos, outro alvo de Ancara é a comunidade LGBT, com o presidente turco a dizer na campanha que enterraria "os pró-LGBT nas urnas". "Sinto um medo profundo. Não conseguia respirar antes, e agora eles vão tentar estrangular a minha garganta", afirmou o ativista Ilker Erdogan à AFP, ainda antes da vitória do líder conservador.
Líderes saúdam reeleito
Um porta-voz da ONU referiu que o secretário-geral, António Guterres, "espera fortalecer ainda mais a cooperação entre a Turquia e as Nações Unidas". Retórica similar à da Casa Branca, que citou a aliança entre os dois países. "Espero que continuemos a trabalhar juntos como aliados da NATO em questões bilaterais e desafios globais comuns", disse Joe Biden.
Já Jens Stoltenberg, secretário-geral da NATO, expressou a vontade de trabalhar com os turcos na preparação para a cimeira da Aliança Atlântica, que decorrerá em julho, na Lituânia. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, salientou ser de "importância estratégica tanto para a UE como para a Turquia trabalharem no avanço desta relação, para benefício do povo".
Turquia e Suécia retomam diálogo
Estocolmo e Ancara vão retomar, na quinta-feira, as conversas sobre a adesão da Suécia à NATO, anunciou ontem o chefe da diplomacia sueca. Tobias Billström encontrar-se-á com o homólogo turco, Mevlüt Cavusoglu, à margem da reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da Aliança Atlântica, em Oslo, na Noruega. Billström disse esperar acelerar as negociações, após a definição política na Turquia.
