O ex-juiz e anterior ministro da Justiça brasileiro, Sergio Moro, começou a testemunhar na tarde deste sábado no âmbito da investigação aberta contra o presidente do país, Jair Bolsonaro, por alegadamente tentar "interferir politicamente" na Polícia Federal.
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Moro chegou pouco antes das 14 horas (18 horas em Portugal continental) na Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, cidade onde liderou, como magistrado, a operação anticorrupção Lava Jato e condenou vários empresários e políticos, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
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Desta vez será o ex-juiz a submeter-se às perguntas dos agentes, sob o olhar de três procuradores nomeados pelo procurador-geral da República do Brasil, Augusto Aras, para acompanhar as diligências.
Grupos de manifestantes a favor de Moro e outros defensores de Bolsonaro concentraram-se desde a manhã de hoje junto da sede da polícia, onde se registaram momentos de tensão, que rapidamente foram apaziguados pelos agentes da autoridade, segundo a agência espanhola Efe.
O juiz do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello ordenou na quinta-feira que Moro testemunhasse no prazo máximo de cinco dias, após as graves acusações que lançou contra Jair Bolsonaro, quando se demitiu da Tutela da Justiça.
Na semana passada, o então ministro da Justiça e da Segurança Pública do Brasil, Sergio Moro, pediu a demissão do cargo que ocupava desde janeiro do ano passado, acusando o Presidente brasileiro de estar a fazer "interferência política na Polícia Federal", na sequência da demissão do ex-chefe daquela instituição Maurício Leite Valeixo.
"O Presidente disse-me, mais de uma vez, expressamente, que ele queria ter uma pessoa do contacto pessoal dele [para quem] ele pudesse ligar, [de quem] ele pudesse colher informações, [com quem] ele pudesse colher relatórios de inteligência. Seja o diretor [da Polícia Federal], seja um superintendente", declarou Moro na ocasião.
Segundo Moro, Bolsonaro queria interferir na Polícia Federal porque estava preocupado com investigações em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), que poderiam envolver os seus filhos ou aliados políticos.
Horas depois da demissão do ex-juiz, Bolsonaro negou as acusações, mas acabou por admitir que, em pelo menos três ocasiões, procurou obter mais informações acerca de investigações em curso: acerca do atentado que sofreu em 2018, sobre o caso que envolvia a presença dos acusados de matar a vereadora Marielle no seu condomínio, e sobre uma eventual relação do seu quarto filho com a filha de um dos acusados do assassinato da vereadora.
A Polícia Federal conduz uma investigação sobre a criação e disseminação de notícias falsas nas redes sociais, supostamente publicadas por grupos ligados ao vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, e outra contra o senador Flavio Bolsonaro por branqueamento de capitais quando era deputado no Rio do Rio de Janeiro, ambos filhos do chefe de Estado.
As declarações explosivas de Moro, consideradas um símbolo da luta contra a corrupção no Brasil, abriram uma grave crise política no Governo de Bolsonaro, que desqualificou publicamente o ex-juiz e negou estar a "blindar" a sua família de qualquer investigação.
Hoje, o chefe de Estado apelidou Moro de "judas" e insinuou que o ex-ministro impediu a Polícia Federal de investigar a facada que Bolsonaro sofreu durante a campanha de 2018, e cujo autor de encontra detido desde então.
No contexto das acusações de Moro, o Ministério Público recebeu a autorização do Supremo Tribunal para abrir uma investigação contra o Presidente, que pode ter incorrido em delitos de caráter penal, como coação, prevaricação ou obstrução da Justiça.
No entanto, Moro também está entre os investigados, porque, se as suas acusações não forem comprovadas, poderá ser acusado por denúncia caluniosa, que o ex-juiz interpretou como uma forma de "intimidá-lo".
O ex-ministro disse na sexta-feira, em entrevista à revista Veja, que apresentará evidências ao Supremo Tribunal Federal que comprovam a tentativa de Bolsonaro de interferir na Polícia Federal.