Morreu, nesta sexta-feira, Alexei Navalny, proeminente opositor de Putin que estava a cumprir pena de prisão na região do ártico russo.
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Navalny, de 47 anos, ter-se-á sentido mal depois de ter feito uma caminhada na prisão, segundo os serviços prisionais russos, mas o Kremlin já garantiu desconhecer as causas da morte. "Foram tomadas todas as medidas necessárias de reanimação, sem resultados positivos", explica a curta mensagem do estabelecimento prisional.
"Conforme a regulamentação vigente, o Serviço Penitenciário Federal está a realizar todos os esclarecimentos e verificações. Não há necessidade de dar instruções, pois existe um conjunto de normas que orientam a atuação do Serviço Penitenciário Federal", afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Preso numa cela de isolamento após ter sido condenado por extremismo, há muito que havia questões sobre a degradação do seu estado de saúde. Na última mensagem publicada pela sua equipa na rede social X (antigo Twitter), na quarta-feira, Navalny revelava que tinha sido colocado pelo quarta vez numa cela de castigo, em menos de dois meses. "A colónia de Yamalo decidiu bater o recorde de bajulação de Putin e das autoridades de Moscovo", escreveu em russo.
Segundo Leonid Volkov, porta-voz de Navalny, o comunicado da prisão em que se dá conta da morte é uma "confissão de homicídio", apesar de não ser possível, até ao momento, uma confirmação independente do ocorrido. O advogado está a caminho do estabelecimento prisional.
Esteve em tribunal e parecia bem de saúde
O dissidente russo participou, quinta-feira, em duas audiências no tribunal por vídeo e não se queixou do estado de saúde, noticiou a agência estatal russa Ria Novosti. "Ontem, tivemos duas audiências. Ele não se queixou, expressou-se ativamente", disse o tribunal da região de Vladimir, onde Navalny esteve detido antes de ter sido levado para a colónia penal do Ártico onde morreu.
O advogado alemão de Navalny, Nikolaos Gazeas, confirmou estas afirmações numa entrevista ao diário alemão "Kölner Stadt-Anzeiger", a ser publicada no sábado."Como de costume, ele apareceu de boa saúde e causou uma forte impressão", disse o advogado, segundo a agência francesa AFP.
Um dos advogados do político da oposição, Leonid Soloviev, afirmou que um dos defensores de Navalny teve oportunidade de o ver na quarta-feira e que "tudo estava normal na altura".
Preso na Sibéria
O russo chegou a este centro de detenção localizado na região de Yamalo-Nenetsia, no noroeste da Sibéria, no final de dezembro, no final de uma longa transferência durante a qual os seus familiares não receberam notícias, causando receios no exterior. Os seus apoiantes afirmaram que as autoridades russas procuram isolá-lo ainda mais, no período que antecede as eleições presidenciais de março, nas quais a vitória do líder do Kremlin, Vladimir Putin, é dada como certa.
Há três anos, Alexei Navalny foi detido em Moscovo quando regressava de Berlim, onde esteve internado após ter sido alvo de uma tentativa de envenenamento. Acumulava penas de prisão que ascendiam os 30 anos. O ativista garantia que não se arrependia de ter voltado à Rússia, depois de ter estado na Alemanha, e esclarecia que as suas convicções pessoais levavam-no a não desistir do país que o viu nascer.
Em janeiro, três anos depois da detenção, o ativista surgia num vídeo partilhado no Telegram, no qual reafirmava que as alegações não são verdadeiras. “Tenho o meu país e as minhas convicções. Não quero desistir nem do meu país nem das minhas ideias. Se as nossas convicções valem alguma coisa, devemos estar dispostos a defendê-las. E, se necessário, a fazer alguns sacrifícios”, referiu, justificando o facto de não ter procurado exílio quando esteve hospitalizado na Alemanha, em 2020.
Antigos reclusos da colónia prisional IK-3, na cidade de Kharp, onde Navalny se encontrava, relataram a jornais russos independentes episódios de tortura, nomeadamente no momento do banho.