O cientista francês Étienne-Émile Baulieu, que revolucionou a vida de milhões de mulheres ao inventar a pílula abortiva, morreu, esta sexta-feira, aos 98 anos, após uma longa carreira na qual sempre procurar criar ferramentas "úteis para o bem-estar humano".
Corpo do artigo
Baulieu, médico e investigador, morreu em casa, em Paris, anunciou a mulher, Simone Harari Baulieu, num comunicado transmitido à AFP. "A sua investigação foi guiada pelo seu apego aos avanços possibilitados pela ciência, o seu compromisso com a liberdade das mulheres e o seu desejo de permitir que todos vivessem melhor e durante mais tempo", declarou.
Nascido em 12 de dezembro de 1926, em Estrasburgo, no leste de França e doutor em Medicina (1955) e em Ciências (1963), Baulieu tornou-se mundialmente famoso pela transcendência científica, média e social dos seus trabalhos sobre as hormonas esteroides. Além de inventar a pílula abortiva em 1982, procurou formas de atrasar o envelhecimento, lutar contra a depressão e o Alzheimer.
Etienne Blum adotou o nome Émile Baulieu ao juntar-se à Resistência contra a ocupação nazi, com apenas 15 anos. Após a guerra, foi convidado para trabalhar nos Estados Unidos. Em 1961, obteve o apoio de Gregory Pincus, pai da pílula anticoncecional, que o convenceu a estudar as hormonas sexuais. Ao voltar para França, concebeu uma anti-hormona que consegue bloquear a ação da progesterona, essencial para a implantação do óvulo no útero. A molécula RU-846, desenvolvida com a ajuda do laboratório Roussel-Uclaf, torna-se uma alternativa médica ao aborto cirúrgico, segura e menos traumática.
No entanto, a batalha para a sua comercialização apenas começava. O francês sofreu duras críticas e chegou a receber ameaças. Foi levado a tribunal e demonizado pelas poderosas organizações antiaborto americanas, que o acusaram de criar uma "pílula da morte".
O endocrinologista também estudou o DHEA, a hormona cuja secreção e atividade contra o envelhecimento havia descoberto. Além disso, desenvolveu um tratamento para a depressão, cujo ensaio clínico está atualmente em andamento em vários hospitais universitários.
Em 2008, fundou o Instituto Baulieu para compreender, prevenir e tratar doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer. As suas investigações centravam-se nas proteínas Tau e FKBP52.
O cientista foi agraciado com o prémio Lasker em 1989 pela descoberta da pílula abortiva. O reconhecimento é a maior distinção científica americana e é considerado um potencial precursor do Nobel para quem o obtém. Baulieu também obteve a Grande Cruz da Legião de Honra e a Ordem Nacional do Mérito, duas importantes distinções na França.
Numa entrevista à AFP, citou como os seus temas favoritos "a mulher, a saúde cerebral e a longevidade". "Sempre tentei combinar ciência e progresso, aplicações úteis para o bem-estar humano", afirmava.