A China está a viver um momento de aumento exponencial de casos de covid-19, o que levou vários países a impor regras aos viajantes chineses, como a apresentação de teste negativo. A Organização Mundial da Saúde (OMS) pôs em causa a transparência dos dados divulgados pelo país, dizendo que sub-representam a realidade vivida na China.
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Em dezembro, a China registou apenas 23 mortes por covid-19, após restringir drasticamente os critérios para classificar essas fatalidades. Agora, apenas as pessoas que morrem de doenças respiratórias, como pneumonia, são contabilizadas. Segundo a BBC, o número crescente de figuras públicas chinesas cujas mortes estão a ser tornadas públicas está a levar as pessoas a questionar ainda mais o número oficial de mortes por covid-19.
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É o caso da cantora de ópera Chu Lanlan, que morreu, em dezembro, aos 40 anos. De acordo com o "Operawire", Chu Lanlan era uma soprano profissional na Ópera de Pequim e estava envolvida em causas de solidariedade social. A família disse estar triste com a sua "partida abrupta", mas não deu detalhes sobre a causa da morte.
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No Dia de Ano Novo, foi tornada pública a morte do ator Gong Jintang, de 83 anos, conhecido pela sua atuação como Padre Kang desde 2000, na série televisiva mais antiga do país "In-Laws, Out-Laws". A causa da morte também não foi divulgada, mas utilizadores nas redes sociais vincularam-na a outras mortes recentes de pessoas mais velhas. "Por favor, Deus, por favor, trate melhor os idosos", escreveu a atriz Hu Yanfen na rede social chinesa Weibo.
O guionista Ni Zhen, de 84 anos, também morreu recentemente. Ficou famoso pelo seu trabalho no filme "Raise the Red Lantern", de 1991, que é amplamente considerado pela crítica um dos melhores filmes chineses.
Hu Fuming, ex-jornalista e professor reformado da Universidade de Nanjing, morreu em 2 de janeiro, aos 87 anos. Foi o principal autor de um famoso comentário publicado em 1978 que marcou o início do período "Boluan Fanzheng" - uma época de regresso à normalidade após a agitação da Revolução Cultural sob o primeiro líder comunista do país, Mao Tse-Tung.
Just found out Hu Fuming, a brilliant Chinese theorist who laid important foundations for Reform and Opening Up with his 1978 article "Practice is the Only Criterion for Testing Truth", has passed away due to COVID-19. May he rest in peace. pic.twitter.com/quiKNM4SHa
- Punished Ben Garrison 2'1'' IQ 25 (@Persian_Darius_) January 5, 2023
De acordo com uma contagem dos meios de comunicação chineses, 16 cientistas das principais academias de ciência e engenharia do país morreram entre 21 e 26 de dezembro.
Nenhuma das mortes está oficialmente ligada à covid-19, mas a situação levou a especulação online. "Também morreu de 'gripe má'?" lê-se num dos comentários mais bem avaliados nas notícias sobre a morte de Ni. "Mesmo que vasculhes toda a Internet, não encontrarás nenhuma referência à causa da morte", escreveu outro utilizadores.
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Transparência dos dados chineses em causa
Numa entrevista à televisão estatal chinesa, o diretor do Instituto de Doenças Respiratórias de Pequim admitiu que o número de mortes de idosos este inverno foi "definitivamente maior" do que nos anos anteriores, ao mesmo tempo que destacou que os casos críticos continuam a ser uma minoria do número total dos casos de covid-19. Já o "People's Daily", jornal oficial do Partido Comunista Chinês, instou os cidadãos a trabalharem para uma "vitória final" sobre a covid-19 e rejeitou as críticas à política "zero covid".
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Para outros países e para a Organização Mundial da Saúde (OMS), as estatísticas de Pequim não refletem a realidade. Na quarta-feira, o diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, disse, em Genebra, que a organização não tinha "dados completos" da China. "Acreditamos que os números atuais publicados na China sub-representam o verdadeiro impacto da doença em termos de internamentos hospitalares, em termos de internamento em UCI [Unidades de Cuidados Intensivos] e, principalmente, em termos de mortes", afirmou.
Por sua vez, Pequim insistiu, esta quinta-feira, que a China "sempre partilhou informações e dados relevantes com a comunidade internacional, com uma atitude aberta e transparente". "Esperamos que o secretariado da OMS mantenha uma posição científica, objetiva e justa, e faça esforços para desempenhar um papel positivo na resposta mundial ao desafio da pandemia", disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mao Ning, em conferência de imprensa.