Governo britânico promete acelerar medidas para travar entradas ilegais, depois de quatro pessoas morrerem em naufrágio de embarcação com dezenas de migrantes. Organizações que apoiam requerentes de asilo não poupam nas críticas ao Executivo londrino.
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Apenas um dia depois de Rishi Sunak, primeiro-ministro britânico, prometer avançar, até ao final do ano, com medidas migratórias mais restritivas, a notícia da morte de pelo menos quatro requerentes de asilo no Canal da Mancha, na sequência de um naufrágio de uma pequena embarcação que transportava entre 40 a 50 pessoas, é "um lembrete preocupante" que expõe a necessidade de o Executivo agilizar a política migratória que tem sido antecipada, realçou Suella Braverman, ministra do Interior do número 10 de Downing Street.
Ao expressar "profunda tristeza" pelo incidente que ceifou a vida de pelo menos quatro pessoas - sendo que, apesar de 43 migrantes terem sido resgatados com vida na costa do condado de Kent, no Sudeste de Inglaterra, ainda não é certo se existem mais desaparecidos - a governante lembrou que "atravessar o Canal da Mancha em embarcações impróprias é uma tarefa perigosa".
Braverman garantiu que o Governo está a "trabalhar para destruir os esforços de criminosos que tratam os seres humanos como carga", alegando que a maior parte dos migrantes são transportados em embarcações lideradas por contrabandistas "que se aproveitam da fragilidade humana" para obter lucros. A ministra informou que este ano já foram detidos 55 grupos de crime organizado no país, no entanto, assinalou que o trabalho de captura é "intensivo".
Para prevenir situações como a desta quarta-feira, a responsável pela Tutela assegurou que a legislação que será introduzida brevemente irá fixar medidas inequívocas: "Se alguém chegar ao Reino Unido ilegalmente, não poderá permanecer aqui", antecipou, assinalando que os migrantes nesta situação podem ser detidos ou devolvidos a outras nações, o que, em alguns casos, deverá passar por regressar ao país de origem, caso este seja classificado como seguro.
"As pessoas não precisam de procurar asilo se já estiverem num país seguro", justificou Suella Braverman, um dia após Rishi Sunak ter anunciado um acordo com a Albânia - um "país europeu próspero", defendeu o chefe de Governo - para repatriar nacionais, já que pelo menos um terço dos migrantes que chegam a solo britânico são provenientes deste país.
Na nova política migratória deverá ainda constar que qualquer pessoa que pise a Grã-Bretanha de forma ilegal não terá direito a apresentar pedido de asilo ou de cidadania britânica posteriormente. Há quem, contudo, não perspetive as medidas inflexíveis como as mais adequadas para combater o flagelo que não é uma novidade na travessia marítima que liga Inglaterra e França.
Downing Street debaixo de fogo
Pouco mais de um ano após o Canal da Mancha ter vivido a maior tragédia migratória desde que a rota passou a ser usada com maior frequência, em 2018, já que 32 refugiados morreram depois de a embarcação ter afundado no porto de Calais, Tim Naor Hilton, diretor-executivo da organização britânica Refugee Action, considera que as políticas do Governo para travar as entradas ilegais no país são "hostis". Na perspetiva do ativista, estas medidas são pensadas para "manter as pessoas longe e não para mantê-las seguras", defendendo que a obrigação do país "é criar rotas legais para os refugiados", cita a "Sky News".
Clare Mosele, fundadora da instituição Care4Calais, concorda que a estratégia governamental poderá piorar a situação que se vive. "Um ano depois de 32 pessoas terem perdido a vida no Canal da Mancha, o nosso Governo não fez nada para evitar mais mortes e, portanto, falhou tanto com os refugiados que precisam da nossa ajuda quanto com o nosso país", alertou.
Também a diretora executiva da organização Médicos Sem Fronteiras no Reino Unido, Natalie Roberts, considera que abordagem escolhida pelos conservadores para resolver a situação é "cruel" e "empurra as pessoas desesperadas para rotas ainda mais perigosas".
Apesar das críticas, que são uma constante desde que o novo Executivo chegou ao poder e traçou a questão migratória como uma das prioridades a resolver, a ministra do Interior destaca que a capacidade do país de receber migrantes "não é ilimitada", lembrando que já foram gastos, diariamente, milhões de libras em alojamentos em hotéis, ressalvando que a única opção passa por criminalizar as entradas ilegais.
O diretor executivo do Conselho de Refugiados, Enver Solomon, recordou, porém, que a maioria dos migrantes que atravessam o Canal da Mancha são pessoas que estão "a fugir da guerra, da violência e do derramamento de sangue". As chegadas de pequenas embarcações ilegais representaram 41% dos pedidos de asilo registados até setembro de 2022, segundo dados do Executivo britânico publicados no mês passado.