Vários camiões de ajuda humanitária russa passaram, esta sexta-feira, a fronteira ucraniana, no leste do país, pouco depois de Moscovo anunciar que não ia esperar mais. Representantes da Cruz Vermelha não estão a acompanhar a coluna humanitária porque não receberam "garantias de segurança suficientes". Kiev denuncia uma "invasão direta".
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"Todos os pretextos para adiar a entrega de ajuda às zonas em situação de catástrofe humanitária estão esgotados. A Rússia decidiu agir. O nosso comboio, carregado de ajuda humanitária, dirige-se para Lugansk", um dos principais bastiões dos separatistas pró-russos no leste da Ucrânia, indicou o ministério dos Negócios Estrangeiros russo, em comunicado.
Alguns minutos depois deste anúncio, um fotógrafo da agência noticiosa francesa AFP disse ter visto uma dezena de camiões brancos, dos 300 que integram o comboio, passar a fronteira, e chegar à alfândega ucraniana.
O Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) anunciou que os seus representantes não estão a acompanhar a coluna humanitária russa em território ucraniano porque não receberam "garantias de segurança suficientes".
"Não fazemos parte da coluna de nenhuma forma", disse a agências internacionais uma porta-voz da Cruz Vermelha, Viktoria Zotikova, depois de a organização ter escrito no Twitter que a "situação de segurança é volátil".
Uma equipa de responsáveis da Cruz Vermelha no terreno informou que, durante a noite, o bastião separatista pró-russo de Lugansk, para onde se dirigem os camiões russos, foi alvo de intensos bombardeamentos.
O governo ucraniano tinha posto como condição para a entrada da coluna humanitária que ela fosse acompanhada pelo CICV em território ucraniano, com um delegado da organização em cada camião.
"Dizemos que isto é uma invasão direta. Sob o símbolo cínico da Cruz Vermelha, estes são veículos militares", considerou Valentyn Nalyvayshenko, chefe dos serviços de informações ucranianos SBU, citado pela agência Interfax Ucrânia.
Um outro responsável da segurança ucraniana disse por seu lado que Moscovo é "o único responsável" pela segurança da coluna, que atravessa território controlado pelos separatistas.
Os camiões estão estacionados há mais de uma semana no lado russo da fronteira, a aguardar "luz verde" para avançarem.
Os primeiros camiões do comboio foram inspecionados na quinta-feira pela guarda de fronteira e agentes alfandegários ucranianos, procedimento indispensável para que o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) possa, em seguida, distribuir a ajuda.
As autoridades ucranianas receiam que o comboio possa ser alvo de ataques de rebeldes pró-russos e usado como pretexto para uma intervenção russa. Kiev advertiu que a passagem da ajuda só será feita quando garantida a sua segurança.
Moscovo considerou que "todas as garantias indispensáveis foram dadas" e que "o itinerário" previsto para o comboio tinha sido verificado pelo CICV.
"Funcionários do CICV estão prontos para acompanhar e participar na distribuição da ajuda. Consideramos que representantes da Cruz Vermelha russa podem também participar", acrescentou o ministério.
A diplomacia russa repetiu que "a responsabilidade sobre possíveis consequências de provocações contra o comboio" pertencia a Kiev.
Um porta-voz do CICV afirmou hoje à agência noticiosa russa Interfax que a organização não tinha ainda recebido "garantias de segurança".