O professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica, Luís M. Figueiredo Rodrigues, e a membro da organização Nós Somos Igreja - Portugal, M. Margarida Pereira-Müller, analisaram ao JN como deverá ser o pontificado do novo Papa, Leão XIV.
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Será um pontificado de continuidade ou teremos um Papa mais comedido, com abordagem menos política e reformadora?
Luís Figueiredo Rodrigues: Acredito que vamos ter um Papa que vai ser, como todos os outros, sucessor de Pedro. Ele próprio disse que vai continuar na linha daquilo que foram as grandes opções do Papa Francisco, a questão da paz, da sinodalidade – e a sinodalidade é uma palavra muito forte porque implica, efetivamente, mudança. Implica mudança pessoal, das comunidades, das estruturas. Se calhar o estilo será não tão comunicativo, mas mais comedido.
Margarida Pereira-Müller: O novo Papa parece que seguirá o caminho do Papa Francisco, o que não significa que não vá também tomar novos caminhos. Infelizmente, no papel da mulher na Igreja, não me parece que ele vá abrir o caminho para o Ministério e para o Sacerdócio. Muitos padres quando sobem a bispo ou a cardeal têm uma opinião e, depois, têm uma visão mais ampla e tornam-se alguns mais liberais ou com uma visão mais abrangente. Francisco também não era a favor da ordenação das mulheres. Ele levou mulheres a cargos muito importantes, mas continuaram fora do Conclave. Portanto, foi uma decisão de homens.
Que desafios se colocam no atual contexto geopolítico?
Luís Figueiredo Rodrigues: O grande desafio que este, ou qualquer outro que fosse, terá é mostrar a pertinência da Igreja no Mundo. Onde houver ausência de paz, onde houver desumanização, onde o ser humano não estiver a ser promovido como devia, nós temos que estar aí. Sendo que a Igreja é universal, é para o planeta inteiro, há expressões, há questões, há problemáticas, que são muito específicas e muito diferentes de um ponto geográfico para o outro. Mas temos consciência que a Igreja e o Mundo já não são eurocêntricos.
Margarida Pereira-Müller: O novo Papa é conhecido por ser um homem que gosta de consensos, que gosta de fazer pontes. É um grande diplomata, tem uma visão muito vasta do Mundo, trabalhou nos EUA, no Peru, em Roma, com diversos grupos. Há cada vez mais conflitos e penso que poderá ter um papel importante como mediador. A mediação não tem sido feita, ou não tem sido pedida a mediação do Vaticano. O que é uma pena, porque eu penso que o Vaticano poderia ter um papel muito importante.
A questão da imigração deverá marcar a agenda do novo Papa?
Luís Figueiredo Rodrigues: A imigração em si não é um problema – só se torna um problema quando as pessoas não são devidamente acolhidas, respeitadas. Com as mutações globais que obrigarão a deslocar grandes quantidades de pessoas, é provável que haja muita imigração problemática, o que faz com que haja atropelos aos Direitos Humanos e a Igreja não pode ficar indiferente, como não vai ficar. E este Papa, tendo o percurso de vida que tem, é com certeza ainda mais sensível à imigração.
Margarida Pereira-Müller: Não sei se estará no foco do novo Papa. É um tema importante. Ele teve comentários sobre o que se está a passar nos EUA, como estão a ser tratados os imigrantes, não concordando. Lembrando que a primeira viagem de Francisco foi a Lampedusa e este Papa segue muito os passos de Francisco.