Uma cidadã francesa, de 32 anos, apresentou-se esta quinta-feira como candidata às presidenciais do próximo ano. O caso não seria notícia se esta mulher, Kenza Drider, não usasse um véu integral quando anda na rua. O que é proibido em França desde Abril deste ano.
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Kenza Drider, de origem marroquina e mãe de quatro filhos, anunciou ontem a sua candidatura às eleições presidenciais de 2012 em Meaux, no dia em que o tribunal daquela cidade condenou duas mulheres ao pagamento de uma multa por frequentarem espaços públicos quando o usavam o niqab.
A sua candidatura com independente conta já com o apoio de diversos grupos pró-islâmicos e de multimilionários influentes. Estima-se que em França vivam entre quatro milhões a seis milhões de muçulmanos.
A jovem candidata presidencial, membro da organização não governamental "Não toquem na minha Constituição", foi a única mulher velada a ser recebida pela comissão parlamentar encarregada de elaborar a lei de proibição do uso do véu nos espaços públicos, em Dezembro de 2009.
O diário francês "Le Figaro" diz que esta é uma "candidatura de provocação", lembrando que a fundadora da associação "Não toquem na minha Constituição", Rachid Nekkad, 39 anos, pertence ao Partido Socialista e foi candidata às presidenciais de 2007.
Num comunicado enviado à imprensa, Kenza Drider, usa niqab há 13 anos por decisão pessoal, explica que um dos objectivos principais da sua candidatura é a revogação da actual lei.
Em declarações à Associated France Press, Kenza Drider afirmou: "Quando uma mulher que manter a sua liberdade, deve ser ousada". "Hoje, tenho a ambição de servir todas as mulheres que são objecto de estigma ou de discriminação social, económica e política", sublinhou. "É importante que mostremos que estamos aqui, que somos cidadãs francesas", acrescentou.
Duas mulheres condenadas
Duas mulheres foram multadas, ontem, por um tribunal francês por usaram o niqab (véu preto que cobre a cabeça deixando apenas visíveis os olhos) na via pública.
Tratam-se das duas primeiras condenações desde que foi proibido o uso do véu islâmico integral em França, em Abril deste ano, uma lei que gerou bastante polémica. Hind Ahmas, de 32 anos, e Najate Nait Ali, de 36, foram condenadas ao pagamento de multas no valor de 120 e 80 euros, respectivamente, e obrigadas a frequentar um curso de cidadania.
O advogado das duas mulheres, Yann Gré, anunciou já que vai recorrer da setença, não excluindo a possibilidade de encaminhar o processo para o Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
Hind Ahmas e Najate Nait Ali foram detidas pela polícia no dia 5 de Maio deste ano, perto da Câmara Municipal de Meaux. Em Junho, quando se realizou a primeira audiência do tribunal, Hind Ahmas, uma mãe solteira que vive nos arredores de Paris, foi proibida de entrar no edifício por recusou tirar o niqab.
Desde que a proibição entrou em vigor, 136 mulheres foram detidas por usarem o véu integrar, mas até agora nenhuma tinha sido condenada pelo tribunal.
França proibiu véu em Abril
A França - onde cerca de duas mil mulheres usam véu - foi o primeiro país europeu a aprovar uma lei que proibe o seu uso nos espaços públicos. Quem não respeitar esta norma poderá ser condenada ao pagamento de uma multa até 150 euros.
Contudo, outros países estão a ponderar elaborar legislação semelhante, como são o caso da Dinamarca, Áustria, Holanda e Suíça. Na Bélgica esta proibição foi introduzida este verão e quem desrespeitar a lei está sujeita ao pagamento de uma coima e até 30 dias de prisão.