A mulher do primeiro-ministro espanhol foi chamada pela quarta vez, esta quarta-feira, pelo juiz que a investiga por suspeitas de tráfico de influências, corrupção e peculato, com a defesa a reiterar que não cometeu qualquer delito.
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Begoña Gómez, casada com Pedro Sánchez, foi chamada pelo juiz Juan Carlos Peinado, que há quase um ano e meio a investiga, num processo ao qual tem acrescentado novas suspeitas de crimes.
A mulher de Pedro Sánchez foi ouvida, durante poucos minutos, sobre a suspeita de peculato (desvio de fundos públicos), relacionada com o trabalho de uma assessora da Presidência do Governo.
Num despacho de agosto, o juiz disse estar em causa a possibilidade de a assessora ter desenvolvido tarefas que serviam "as atividades privadas de Begoña Gómez", o que poderá "constituir um desvio de fundos públicos em proveito de interesses privados".
Fontes judiciais citadas pelos meios de comunicação social espanhóis indicaram que Begoña Gómez aceitou responder a perguntas do advogado que a defende e explicou que a assistente em causa era a responsável pela agenda institucional enquanto mulher do primeiro-ministro e, por isso, para evitar sobreposições, conhecia também a agenda pessoal.
Neste contexto, segundo as mesmas fontes, admitiu que pontualmente, lhe pediu "algum favor", nomeadamente, "enviar alguma mensagem" fora do âmbito institucional, mas sublinhou que a assistente jamais a ajudou nas atividades profissionais e privadas.
Num recurso apresentado pela defesa de Begoña Gómez, o advogado que a representa já tinha negado que houvesse peculato na contratação e trabalho da assessora em causa, defendendo que "a realização de um favor à pessoa para que se trabalha e com quem, além disso, se mantém uma relação de amizade, nunca pode ser interpretada como uma conduta que entra dentro do âmbito da aplicação de uma infração penal tão grave como o peculato".
Na investigação a Begoña Gómez, o mesmo juiz já ouviu, como testemunha, o atual ministro da Justiça e antes ministro da Presidência, Félix Bolaños, e pediu ao Tribunal Supremo de Espanha, no final da audição, que o investigasse por peculato por causa da contratação e do trabalho da assessora em causa.
No entanto, o Tribunal Supremo rejeitou o pedido do juiz, perante o que considerou "uma absoluta" falta de indícios.
Begoña Gómez, de 54 anos, está a ser investigada desde abril de 2024 por corrupção e tráfico de influências, na sequência de queixas apresentadas por duas associações reputadas como próximas da extrema-direita: Manos limpias (Mãos limpas) e Hazte oír (Faz-te ouvir).
Já foi chamada quatro vezes pelo juiz Juan Carlos Peinado e, na última vez que tinha estado perante o magistrado, em 18 de dezembro de 2024, negou qualquer irregularidade e garantiu não ter "nada a esconder", depois se ter mantido em silêncio nas primeiras duas presenças.
Além da nova suspeita de peculato por causa da assessora, a mulher de Sánchez é suspeita de ter utilizado a posição do marido no âmbito das relações profissionais, nomeadamente com o empresário Juan Carlos Barrabés, de "apropriação ilícita" de 'software' criado para a universidade onde trabalhava e de "exercício ilegal" de uma profissão.
O juiz que tutela a instrução decidiu avançar com a investigação judicial apesar de dois relatórios da Guarda Civil (que tem a tutela da investigação judiciária em Espanha) terem concluído a inexistência de infrações e apesar de um pedido do Ministério Público para o arquivamento do caso.
No início deste mês, a propósito deste caso e de outro processo judicial que envolve o irmão, Pedro Sánchez disse que "há juízes a fazer política" no país e que, "no fim, estão a pagar duas pessoas por serem familiares" do primeiro-ministro.
"São uma minoria, mas provocam um dano terrível à justiça", afirmou o líder do Governo espanhol, que garantiu "a inocência e a honestidade" do irmão, David Sánchez.