A mulher que se imolou, na segunda-feira, numa dependência bancária em Almassora, Espanha, terá ateado fogo a si mesma num ato de desespero por não conseguir pagar a hipoteca de dois andares que possuía e ter ficado em dívida com o banco por um terceiro.
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A mulher, Inocencia Lucha, encontra-se agora em estado grave, com 47% do seu corpo queimado.
Residentes da localidade explicaram que Inocencia tinha dois andares para os quais tinha apresentado como aval uma terceira casa. Desempregada e sem possibilidade de pagar a hipoteca, terá perdido as três casas.
O seu próprio apelido conta a história da sua vida. Lucha (luta), de 47 anos, tem três filhos, é viúva do primeiro casamento e divorciada do segundo.
Fontes próximas da mulher dizem que a experiência de vida de Inocencia Lucha tem sido sempre uma luta contra as adversidades, revela o "El Mundo". Definem ainda Inocencia como uma "boa pessoa", que está presa nesta crise que atravessamos.
Sozinha com os três filhos, tem-se debatido com várias dificuldades financeiras e teve de mudar-se de uma casa, de que foi despejada, para outra, perto da dependência bancária da avenida de José Ortiz, onde ocorreu o incidente.
Desempregada há vários anos, depois de ter vendido cupões, e fisicamente incapacitada, vive de uma pensão de 360 euros. Tem-se dedicado, recentemente, a criar separadores de livros que vende aos amigos por um preço simbólico, que não dá para sobreviver.
Superou uma depressão, que contribuiu para o seu caráter agora aberto e expressivo. Tem-se dedicado a um grupo de "reiki", em conjunto com outras mulheres, com quem partilha as suas preocupações porque, segundo dizem, Inocencia "tem sempre sofrido muito".
Mar Simó, um amigo de Inocencia, ficou em pânico quando descobriu o que tinha acontecido. "Na quinta-feira passada encontrámo-nos e ela contou-me que estava muito mal. Segundo me disse, tinham-lhe tirado os dois andares e tinha acabado de receber outra carta do banco sobre um terceiro andar", disse Mar Simó, citado pelo "El Mundo".
Segundo ele, Inocencia ainda lhe disse "qualquer dia vou lá e pego fogo a mim própria, não há direito a isto, só quero viver".
Assim, na segunda-feira ao meio-dia, dirigiu-se à CaixAlmassora, na avenida José Ortiz. Lá, depois de uma discussão com um funcionário, segundo relatou María Jesús Garrido, da Plataforma de Afetados pelas Hipotecas (PAH), ao "El Mundo", ter-se-á molhado com gasolina e ateado fogo. Testemunhos revelaram que ela gritou "Vocês tiraram-me tudo!".
O banco não esclareceu que motivos poderiam ter levado esta mulher a ter-se imolado naquela dependência bancária. Também não confirmou se acredita que Inocencia queria realmente queimar-se ou pretendia chamar a atenção pegando fogo àquele banco.
Nesta terça-feira ao meio-dia, Inocencia Lucha recebeu o apoio de amigos e familiares, que se concentraram às portas do banco nalguns minutos de silêncio.