Uma cidadã britânica iniciou uma batalha judicial para ter acesso aos óvulos congelados da filha, que morreu vítima de cancro. Quer gerar o próprio neto. Era um desejo da filha, garante.
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Uma cidadã britânica, de 59 anos, e o marido iniciaram uma batalha judicial para terem acesso aos óvulos da sua única filha, com o objetivo de serem usados num processo de fertilização, no qual a mulher seria a geradora do próprio neto.
A filha do casal foi diagnosticada com cancro em 2008 e foi nessa altura que decidiu congelar os seus óvulos numa clínica em Londres, de forma a poder engravidar mais tarde. No entanto, a jovem acabaria por morrer em 2011. Ainda não tinha 30 anos.
Uma clínica de fertilização em Nova Iorque, Estados Unidos, já manifestou interesse em providenciar o tratamento que a cidadã britânica deseja, cujo custo ascende a 82 mil euros. No entanto, a Autoridade britânica de Fertilização e Embriologia Humana (HFEA, sigla em inglês) não autorizou que os óvulos congelados fossem enviados para a clínica norte-americana.
O casal entende que esta decisão é ilegal e contraria os direitos da família.
Em 2014, a HFEA determinou que eram insuficientes as evidências de que a filha desejava que a mãe gerasse um filho seu. Embora a jovem tenha assinado um documento a autorizar o congelamento dos óvulos, não preencheu o formulário sobre a forma como queria que fossem utilizados.
Em comunicado, a britânica de 59 anos revela que o desejo da filha lhe foi comunicado numa conversa no hospital, em 2010, quando o seu estado de saúde se agravou e teve consciência de que não iria sobreviver. "Quero que tenhas os meus bebés", "Não congelei os óvulos em vão", "Não podia desejar melhores pais para eles" e "Com vocês estarão seguros" são afirmações que a mãe garante ter ouvido da boca da filha.
O casal, que quer permanecer sob anonimato para proteger a identidade da "criança que ainda não nasceu", alega, pela voz da sua advogada, que a decisão da HFEA é irracional e uma interferência despropositada na sequência de uma posição intransigente devido à falta de um formulário.
Por outro lado, a HFEA alega que o tribunal não deve "cair na tentação" de ceder aos argumentos do casal ao alegarem que "era o que a filha desejava, quando não há uma evidência clara desse desejo".
O caso de disputa em tribunal para fertilização de óvulos de um dador morto parece ser único. Mohammed Taraniss, responsável de uma clínica londrina de ginecologia e reprodução, disse à BBC que "este parece ser um caso único no mundo". E acrescenta: "Nunca ouvi um caso como este, sobre uma disputa que envolve a mãe e os óvulos da filha já falecida".