A Organização Não-Governamental (ONG) Save the Children alertou esta quinta-feira para o facto de mulheres e crianças serem vítimas de violência sexual e mutilação em massa na República Democrática do Congo (RDCongo).
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A ONG indicou que estas vítimas, que fogem da violência mortal no leste da RDCongo, relataram ter sobrevivido a "ataques sexuais horríveis e mutilação genital por homens armados, usando galhos de árvores, armas e facas".
O terror é constatado, ainda, por psicólogos, que trabalham com os parceiros locais de Save the Children, em campos de deslocados em Kivu do Norte. Estes profissionais documentaram eventos em massa de violência sexual contra crianças de apenas 9 anos.
A Save the Children esclareceu que "as equipas estão a tratar os sobreviventes quase todos os dias, que enfrentam gravidezes indesejadas, complicações de saúde, estigma e pensamentos suicidas".
Segundo a ONG, a maioria dos casos de violência sexual no Kivu do Norte ocorre quando os sobreviventes estão a fugir da escalada dos combates entre o exército da RDCongo, o M23 e muitos outros grupos armados, que forçaram mais de 250 mil pessoas, incluindo cerca de 130 mil crianças, a abandonar as suas casas.
No mês passado, duas instalações de saúde apoiadas pela Save the Children no Kivu do Norte foram saqueadas. Ambas as instalações ajudam a prestar cuidados médicos desesperadamente necessários aos sobreviventes de violência sexual e baseada no género, informou a ONG, em comunicado.
A atual onda de violência segue-se a um ano tumultuoso de intensos surtos de conflito no Kivu do Norte em 2023, quando a intensificação dos combates no leste do país deslocou mais de um milhão de pessoas, incluindo pelo menos 500 mil crianças.
A Save the Children documentou mais de 800 casos de violência sexual baseada no género nas três províncias afetadas pelo conflito (Ituri, Kivu do Norte e Kivu do Sul) e alerta que "é provável que estas estatísticas sejam uma subestimação significativa do verdadeiro número de casos, uma vez que a violência sexual é frequentemente alvo de subnotificação devido ao estigma e ao medo".
Por último, a ONG esclareceu que, em muitos conflitos, a violência sexual continua a ser usada como arma de guerra para aterrorizar mulheres e crianças. A Save the Children apela, por isso, lê-se em comunicado, ao fim imediato da impunidade da violência sexual contra as crianças, reforçando as leis e fazendo-as cumprir, responsabilizando os autores.
O comunicado da Save the Children surge no mesmo dia em que a agência da ONU para os assuntos humanitários anunciou que os combates na cidade de Nyanzale, na RDCongo, conquistada pelos rebeldes do M23, provocaram a deslocação de mais de 100 mil pessoas em dois dias.
A organização Human Rights Watch instou, também hoje, o Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi, a "garantir que os direitos humanos estejam no centro das políticas no seu segundo mandato", alertando para a insegurança crescente que o país está a viver.