Extrema-direita exige que o Dia Internacional da Mulher passe a Dia Nacional das Vítimas da covid-19. Restrição de manifestações abre brecha entre ministérios.
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O Dia Internacional da Mulher, que se celebra esta segunda-feira, volta, um ano depois, a estar envolvido numa polémica política que divide, novamente, o espetro social em Espanha. A batalha ideológica atinge o Governo de coligação presidido pelo socialista Pedro Sánchez, que se mostra defensor acérrimo da igualdade de género, e a oposição, onde a extrema-direita alça a voz para recusar firmemente aquele tipo de iniciativas. Tudo isto no meio de uma crise pandémica que continua bem presente.
Há um ano, os ministros e ministras do Partido Socialista e Unidas Podemos (esquerda) não perderam a oportunidade de aparecer nas manifestações alusivas ao 8 de março (ler caixa), para reivindicar a nova ideologia feminista do Executivo, que estava apenas há dois meses na Moncloa. Seis dias depois, o Governo viu-se obrigado a decretar o estado de emergência, para tentar abrandar, sem sucesso, uma pandemia que fez 45 mil óbitos na primeira vaga.
Tanto o líder do Partido Popular (direita), Pablo Casado, como Santiago Abascal, presidente do VOX (extrema-direita), exigiram a demissão do Executivo, por ter ocultado informação sobre a pandemia.
"Gritar "viva o 8 de março" é gritar "viva a doença e viva a morte"", criticou o dirigente da extrema-direita, em referência "aos milhares de pessoas que poderiam ter sobrevivido se as manifestações feministas não se tivessem organizado".
Porém, os radicais também não ficaram em casa no Dia Internacional da Mulher. Organizaram uma convenção, no pavilhão de Vistalegre, em Madrid, para exibir a sua postura contrária ao feminismo. Entre os assistentes, estava o deputado Javier Ortega Smith, que acabou por testar positivo à covid-19
Prevenção e proibição
Para não cometer os erros do ano passado, o Governo, que já tinha limitado até 500 pessoas o número de participantes, decidiu proibir as manifestações feministas previstas para hoje em Madrid, seguindo as recomendações do Ministério da Saúde. "Ainda estamos imersos numa situação de risco extremo e não há lugar para este tipo de eventos", afirmou a ministra Carolina Darias.
Porém, a decisão de cancelar as mobilizações na capital não foi bem aceite pela Ministra da Igualdade, Irene Montero, que acusou de "criminalizar o movimento feminista". "Este ministério vai exercer uma oposição firme contra essa Espanha cinzenta, machista, liderada pela extrema-direita, que quer mandar novamente as mulheres para casa".
Por seu lado, o VOX continua na sua particular luta contra tudo o que envolve igualdade entre mulheres e homens. Sem acreditar na diferença salarial entre géneros e afirmando publicamente que não existe violência doméstica, os fascistas voltaram a dar mais um passo no seu caminho, depois de exigirem que o Dia Internacional da Mulher passe a ser declarado o Dia Nacional das Vítimas da covid-19. "Temos de recuperar o 8 de março como uma data para a dignidade das vítimas da pandemia, já que, há um ano, o Governo tinha informação sobre o perigo do novo coronavírus, mas decidiu não agir por motivos unicamente ideológicos", apontou o eurodeputado do VOX, Jorge Buxadé.
Nada será como há um ano em Madrid
Para perceber a tão tensa situação atual, é preciso regressar a 8 de março de 2020, quando Espanha tinha registado 365 casos de covid-19 e a pandemia estava a ponto de "explodir". Apesar do risco, os movimentos feministas espalharam-se pela geografia do país, com principal destaque para a manifestação em Madrid, a capital, onde mais de 120 mil pessoas saíram à rua para condenar a violência que mata, a cada ano, milhares de mulheres. O facto de não ter proibido as manifestações feministas foi aproveitado pela Oposição para criticar ferozmente a gestão sanitária do Governo, assinalando, inclusive, o 8 de março como o principal motivo da expansão da covid-19 por todo o país.
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Em vão
Organizações feministas tinham organizado quatro manifestações para o centro de Madrid, sob o lema "Perante a emergência social, o feminismo é essencial", reivindicando a necessidade de focar as políticas na emergência planetária, luta antirracista, violência doméstica e nos serviços públicos.
Homenagem
Os condicionamentos sanitários levaram a que o Instituto da Mulher tenha promovido um programa chamado "Por ser mulheres, Espanha feminista", que, até ao próximo dia 24, homenageia as mulheres que foram mais afetadas pela pandemia.