A avó paterna, que tratava por "nonna" Rosa, era profundamente religiosa e teve uma grande influência na sua educação. Houve mais mulheres marcantes na infância e juventude, desde logo a mãe, Regina, que Jorge Mario teve de substituir muitas vezes, nas tarefas domésticas, por ser o filho mais velho.
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Também as irmãs, Marta Regina e María Elena, fizeram parte do leque de figuras femininas que ajudaram a construir a personalidade de Francisco, assim como as "noivas" da adolescência. Um dia, referiu numa entrevista: "O contacto permanente com mulheres foi algo que me enriqueceu". Francisco dizia também que, "nos lugares onde se tomam as decisões importantes, é necessário o génio feminino".
Poucos dias depois de assumir o papado, Francisco destacava o "papel primordial" e "fundamental" das mulheres e não faltou muito para começar a inclui-las nas comissões que criou para dar transparência às finanças do Vaticano. Em 2021, nomeou pela primeira vez uma mulher para o cargo de secretária-geral da Governação do Estado do Vaticano, a freira franciscana Raffaella Petrini, que Já em 2025, foi nomeada governadora do Estado do Vaticano. Já tinha havido outras, com destaque para a diretora dos Museus do Vaticano, Barbara Jatta, professora e especialista em História da Arte (escolhida para o cargo em 2016).
O papel das mulheres na Igreja Católica tinha conhecido outro sinal de abertura em abril de 2020, quando Francisco anunciou a criação de uma comissão internacional de estudo com vista à reflexão de uma temática controversa: a possibilidade de ordenação de mulheres como diaconisas.
Menos de um ano depois, uma das alterações ao Código de Direito Canónico passou a conferir às mulheres leigas a possibilidade de ler a palavra de Deus, de ajudar no altar durante a celebração eucarística e de distribuir a comunhão. Através de um "motu proprio", Francisco acabou por formalizar o que já acontecia na prática em locais onde faltavam sacerdotes - mulheres a desempenhar os ministérios do Leitorado e do Acolitado. No entanto, foi muito claro ao reafirmar a sua posição de sempre: "A Igreja de forma alguma tem o poder de conferir a ordenação sacerdotal às mulheres".
Em outubro de 2021, o Papa deu início ao processo mundial de consultas visto como a tentativa mais ambiciosa de reforma da Igreja Católica das últimas décadas. Neste processo de auscultação, com a duração de dois anos, era esperado o relançamento da questão da ordenação de mulheres.
Em março de 2022, foi anunciado que a as mulheres podem assumir posições de alto nível na administração, aquando da divulgação da nova Constituição Apostólica, "Prædicate Evangelium", que entrou em vigor a 5 de junho. O texto diz que os leigos (homens e mulheres) podem ter responsabilidades governativas na Cúria. Anteriormente, os cargos ministeriais ou "dicastérios" só podiam ser ocupados por membros do clero masculino, mas ao abrigo da nova Constituição Apostólica serão agora abertos a leigos, incluindo mulheres.
Assim, a 13 de julho, Francisco nomeou novos membros para o Dicastério para os Bispos (caiu a anterior designação, congregação) e entre eles constavam três mulheres: Raffaella Petrini, secretária-geral da Governação, a também freira Yvonne Reungoat, que tinha sido superiora geral das Filhas de Maria Auxiliadora, e Maria Lia Zervino, presidente da União Mundial das Organizações de Mulheres Católicas.
A maior abertura às mulheres de funções até então reservadas aos homens motivou imensas críticas ao longo dos anos, dentro e fora do Vaticano. A outro nível, Francisco tomou uma decisão que também gerou polémica, ao autorizar os padres a manter a capacidade, em definitivo, de absolver as mulheres que fizeram um aborto. Tal só estava previsto para o Ano da Misericórdia, de dezembro de 2015 a novembro de 2016, mas o Papa argentino, mais uma vez, mudou as regras.