Dois anos depois do início da pandemia, há países que caminham a passos largos até à tão desejada vida normal e alguns estados já informaram que vão começar a tratar a covid-19 como uma endemia, como Espanha, Reino Unido, Dinamarca e Suécia, onde alívio de restrições está mais perto. Noutros países, as medidas sanitárias têm sido mantidas, o que está a causar um grande descontentamento por parte da população.
Corpo do artigo
Canadá
Foi no Canadá que teve origem, há duas semanas, um movimento contra as medidas de contenção da pandemia, nomeadamente uma norma recente que requer a vacinação obrigatória para camionistas, e que levou centenas de camiões a bloquear algumas das principais cidades canadianas, obrigando o Governo a decretar estado de emergência em Otava.
Membros da chamada "Freedom Convoy" ("Caravana da Liberdade", em tradução livre) bloquearam também vários postos fronteiriços entre o Canadá e os Estados Unidos, embora o mais importante e mais movimentado - a ponte Ambassador, que liga Windsor, Ontário, à cidade norte-americana de Detroit - tenha sido reaberto no domingo, após intervenção da Polícia.
Apesar do fim do bloqueio a esse eixo fronteiriço, os protestos mantiveram-se (e mantêm-se), levando várias províncias a levantar algumas restrições: Ontário e Alberta abandonaram a exigência de certificado de vacinação em alguns locais e em breve deixarão para trás as máscaras. Perante este cenário, Trudeau está a equacionar acionar a lei sobre medidas de emergência, disposição que pode ser invocada em caso de "crise nacional" e que dá ao Governo federal mais poder para lhe pôr termo, autorizando "temporariamente medidas extraordinárias".
Nova Zelândia
O Governo da Nova Zelândia, da primeira-ministra trabalhista Jacinda Ardern, adotou uma das estratégias mais rigorosas do mundo para combater a pandemia, com um plano que implicou o encerramento das fronteiras e a obrigatoriedade da vacinação para certos profissionais. Embora tenha permitido que o país de cerca de cinco milhões de habitantes registasse até agora apenas 53 mortes por covid-19, entre menos de 20 mil casos de infeção, a estratégia levou milhares de manifestantes às portas ao Parlamento de Wellington nos últimos dias e à detenção de 120 pessoas.
Dias depois de ter anunciado a reabertura das fronteiras internacionais a partir do final deste mês, a primeira-ministra alertou, na segunda-feira, que o país está a entrar numa nova fase de resposta à pandemia, com o número de casos a explodir. "É um período de disrupção e de risco e nada será como o que vivemos até hoje."
Austrália
Em Camberra, capital da Austrália, os ânimos também se têm exaltado e espera-se que as manifestações se prolonguem até ao final desta semana. A maior parte dos manifestantes, que se reuniram junto do Parlamento, mostravam cartazes com a palavra "liberdade", mostrando-se descontentes com as medidas que o país implementou para conter os contágios.
O Governo anunciou na semana passada que vai reabrir as fronteiras para turistas totalmente vacinados contra a covid-19 a 21 de fevereiro, anunciou o primeiro-ministro australiano, que implementou uma das políticas mais restritivas do Mundo.
Estados Unidos
Nos EUA, um dos países mais atingidos pela pandemia, vários estados, sobretudo governados por democratas, começaram a autorizar o abandono do uso de máscara. Na segunda-feira, os estados de Washington e Maryland juntaram-se aos de Massachusetts, Illinois, Nova Iorque, Rhode Island, Califórnia, Connecticut, Delaware, Nova Jérsia e Oregon na suspensão do uso de máscara em alguns locais públicos.
Embora as infeções tenham vindo a cair, os EUA ainda têm uma média de mais de 230 mil casos por dia, o que leva a que muitos especialistas critiquem a ausência de regras de forma tão imediata.
Europa
França
Na Europa, a Polícia francesa informou na quarta-feira que os comboios da liberdade, inspirados pelo movimento lançado no Canadá, serão proibidos em Paris, com a criação de "um mecanismo específico para evitar bloqueios de estradas, e para multar e deter os infratores". A decisão surge depois de milhares de pessoas que se opõe ao certificado de vacinação terem anunciado nas redes sociais a intenção de se deslocarem para Paris para condicionar a capital francesa com protestos. Na quarta-feira passada, vários comboios partiram de algumas cidades do sul de França com o objetivo de chegarem a Paris na sexta à noite.
No fim de semana, França atualizou as regras de entrada para viajantes, permitindo que passageiros provenientes de determinados países totalmente vacinados e menores de 12 anos entrem sem teste de covid-19 negativo.
A dois meses das eleições presidenciais, um porta-voz do Governo reconheceu a exaustão da população diante da pandemia, mas garantiu que França "era um dos países que adotaram menos medidas restritivas".
Depois de ter informado que o país iria começar a tratar a covid-19 como uma gripe, Espanha entrou na quinta-feira passada numa nova fase do desconfinamento: os "nuestros hermanos" já não precisam de usar máscara ao ar livre. A exceção são grandes eventos, onde as máscaras devem ser usadas se as pessoas estiverem de pé e não conseguirem manter uma distância superior a um metro e meio.
O elemento de proteção pessoal também deixa de ser obrigatório nos recreios das escolas. As medidas, que são acompanhadas por recomendações do Ministério da Saúde que frisa que a população deverá continuar a ter cuidados, causam uma sensação de alívio num dos países mais afetados pela pandemia.
Reino Unido
Por terras de "Sua Majestade", o fim das medidas contra a pandemia já começa a ser vislumbrado pela população, depois do primeiro-ministro, Boris Johnson, afirmar que estas podem ser totalmente extintas dentro de duas semanas, o que inclui o fim da exigência de isolamento após teste positivo.
O governante britânico frisou que a possibilidade de haver uma mudança drástica "mostra que o trabalho duro da população está a valer a pena". Boris Johnson explicou que irá apresentar uma "estratégia para viver com a covid-19" a 21 de fevereiro, sendo que só nesta altura se conhecerão medidas concretas.
Dinamarca
Na Dinamarca, a população tem vivenciado grandes mudanças, depois de na semana passada ter sido autorizada a viver de forma livre. Sem máscaras, distanciamento social ou teste, os dinamarqueses voltaram à normalidade e encaram a doença como uma endemia, o que significa que o vírus deixa de ser visto como uma emergência de saúde.
Apesar do cansaço da população, a OMS tem vindo a alertar que é essencial que os países se mantenham atentos, uma vez que novas variantes podem surgir e mudar o rumo da evolução pandémica.
Noruega
A Noruega suspendeu quase todas as restrições, por já não considerar a covid-19 uma grande ameaça à saúde dos cidadãos, embora a variante ómicron ainda se esteja a propagar de forma relevante pelo país nórdico. Desde sábado, os noruegueses já não precisam de usar máscaras em locais lotados nem de cumprir o distanciamento de um metro. Além disso, as regras de isolamento por covid-19 foram suspensas e substituídas por uma recomendação segundo a qual os adultos infetados devem ficar em casa durante quatro dias.
"Este é o dia pelo qual estávamos à espera. Estamos a remover quase todas as medidas relacionadas com o coronavírus", disse o primeiro-ministro norueguês, Jonas Gahr Stoere, numa conferência de imprensa no sábado, em Oslo, justificando esse passo com a boa proteção que as vacinas deram à população e com o baixo número de internamentos.
Suécia
As autoridades de saúde suecas recomendaram, na segunda-feira, que pessoas com 80 anos ou mais e residentes em lares de idosos recebam uma segunda dose de reforço da vacina contra a covid-19, a quarta vacina no total, para evitar um declínio da imunidade numa altura em que se verifica a disseminação desenfreada da ómicron. A Suécia atingiu níveis recordes de infeções no início deste ano, quando a nova variante se propagou rapidamente pelo país.
A segunda dose de reforço deve ser administrada pelo menos quatro meses após a primeira.