O museu de North Hertfordshire, no Reino Unido, revelou que Heliogábalo, imperador romano do século III, era uma mulher transgénero e vai passar a referir-se ao governante com o pronome feminino "ela".
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A mudança surge depois de terem sido descobertos textos clássicos que alegam que, uma vez, Heliogábalo disse: "Não me chamem Senhor, pois sou uma Senhora".
“Heliogábalo definitivamente preferia o pronome 'ela' e, como tal, isso é algo em que refletimos ao discuti-la nos tempos contemporâneos”, disse Keith Hoskins, conselheiro liberal-democrata e membro executivo de artes do North Herts Council, administrado pela coligação liberal-democrata e trabalhista, em declarações ao jornal britânico "The Telegraph". “Tentamos ser sensíveis na identificação de pronomes para pessoas do passado, assim como somos para pessoas do presente. É apenas educado e respeitoso. Sabemos que Heliogábalo se identificava como mulher e foi explícito sobre que pronomes usar, o que mostra que os pronomes não são uma coisa nova".
Reinado curto e controverso
Marco Aurélio Antonino, mais conhecido como Heliogábalo, governou o Império Romano durante quatro anos, de 218 até ao seu assassinato, aos 18 anos, em 222. Figura controversa durante o seu curto reinado, desenvolveu uma reputação de promiscuidade sexual.
De acordo com Cassius Dio, senador e contemporâneo de Heliogábalo, o imperador foi casado cinco vezes - quatro vezes com mulheres e uma vez com Hiércoles, um ex-escravo e condutor de carruagens. Neste último casamento, Dio escreve que o imperador “foi concedido em casamento e foi denominado esposa, amante e rainha”.
O imperador também usava perucas e maquilhagem com frequência e chegou a oferecer vastas somas de dinheiro a qualquer médico que lhe pudesse dar uma vagina, segundo um texto publicado em 2021 no site da Universidade de Birmingham.
Há, no entanto, bastante debate no meio académico sobre a identidade de género de Heliogábalo. Em declarações à BBC, Shushma Malik, professora de clássicos da Universidade de Cambridge, disse que "os historiadores que usamos para tentar compreender a vida de Heliogábalo são extremamente hostis em relação a ele" e que "não temos nenhuma prova direta das próprias palavras de Heliogábalo". “Há muitos exemplos na literatura romana de épocas em que linguagem e palavras afeminadas eram usadas como forma de criticar ou enfraquecer uma figura política. Referências a Heliogábalo a usar maquilhagem, perucas e a fazer a depilação podem ter sido escritas para minar o impopular imperador", remata.