Músico de 18 anos com Asperger e esquizofrenia morto à facada por gangue em Madrid
Um jovem de 18 anos, a dar os primeiros passos numa carreira musical, foi assassinado em Madrid por um gangue que o atacava há meses. As patologias de que sofria faziam de Isaac, único sustento da família, um alvo vulnerável.
Corpo do artigo
Isaac López, com 18 anos acabados de fazer, cantor de reggaeton e rap, foi morto, na capital espanhola, com quatro facadas nas costas por, ao que tudo indica, sofrer de síndrome de Asperger e esquizofrenia. Há meses que era assediado por membros de um gangue por essa mesma razão, diz o "El País", sublinhando a principal linha de investigação seguida pelas autoridades. A Polícia Nacional, a cargo da investigação, está a tentar apurar as circunstâncias da morte e identificar os responsáveis, que fugiram numa scooter elétrica depois do crime. Além da vida de Isaac, não roubaram mais nada.
Aconteceu na quarta-feira passada: Isaac saiu de casa para ir ter com um amigo com quem ia gravar um videoclipe de reggaeton. Mas assim que pôs os pés na rua, escreve o jornal espanhol, deparou-se com os membros do gangue latino Dominican Don't Play (grupo violento com origem em Nova Iorque nos anos 90 e que chegou a Madrid em 2000), que costumavam rondar a zona. Ao amigo com quem tinha encontro marcado, contou, por telefone, que estava novamente a ser perseguido por eles: "Ele disse-me que quatro pessoas o estavam a perseguir. E eu disse-lhe para correr até à estação de metro de Menéndez Pelayo, onde nos íamos encontrar, quando de repente ouvi um 'ai'. Queria acreditar que eram socos, mas pareciam punhaladas. Depois, só ouvi barulho." O relato foi confirmado por testemunhas que estavam no local e que viram quatro pessoas a rodear um jovem e uma delas a esfaqueá-lo - uma das facadas atingiu a artéria aorta, provocando-lhe a morte.
"Isaac tinha Asperger e esquizofrenia e os Dominican Don't Play implicavam com ele por causa disso há muito tempo. Não o deixavam em paz, insultavam-no, batiam nele. Ele não era tolo e defendia-se, mas continuaram a incomodá-lo várias vezes", contaram ao diário espanhol várias fontes próximas da vítima - Isaac não contara nem à mãe nem à irmã o que se passava para não as preocupar, mas os amigos mais próximos sabiam.
Música foi escape para vida trágica
Com uma incapacidade de 48% associada às patologias de que sofria e nascido numa família marcada pela tragédia da morte precoce do pai, Isaac encontrou na música uma forma de fugir aos problemas dos dias. Little Kinki - o nome artístico que adotou - era feliz a fazer hip hop e reggaeton, lembram os amigos, que pedem justiça para os autores do homicídio. Artista em ascensão, ficou sempre nos primeiros lugares das batalhas de rap em que participou durante quatro anos e, recentemente, tinha integrado a editora discográfica Urbano Records, com quem gravou várias músicas - algumas ultrapassaram as 60 mil reproduções no Spotify. Agora, a comunidade hip hop local está a preparar um evento musical em sua homenagem.
"Uma pessoa demasiado boa para acabar assim. Sempre se esforçou para ajudar a mãe e a sua gente", conta a amiga Andrea, recordando-lhe o "excelente sentido de humor" que fazia rir todos à sua volta. "Chamam-me o maluco do bairro", dizia ele, sem lamentos nem autopiedade. Outros recordam-no como "o menino da mamã", desempregada e também com problemas de saúde, de quem se aproximou ainda mais quando ficou órfão, não há muito tempo, e se tornou o suporte emocional e financeiro de casa, graças à pensão de orfandade e ao subsídio por invalidez que recebia.
Agora que perdeu o filho, a mãe de Isaac ficou sozinha (a outra filha, mais velha, tem vida feita noutro lado), sem rendimentos, com uma hipoteca para pagar e sem sequer poder arcar com as despesas do funeral, que ascendem a quase cinco mil euros, segundo o "El País".