Francesco Giorgi admitiu ter um papel de relevo no esquema de corrupção, mas pediu a libertação imediata da ex-vice-presidente do Parlamento Europeu. Metsola anunciou reforma para travar mais casos.
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Quase uma semana após ser detido, juntamente com a companheira Eva Kaili, agora ex-vice-presidente do Parlamento Europeu (PE), Francesco Giorgi admitiu às autoridades belgas estar envolvido no esquema de corrupção que tinha como objetivo influenciar as decisões do órgão comunitário em benefício do Catar e Marrocos. O italiano, que trabalha como assistente parlamentar em Bruxelas, assumiu participar na teia que envolve, ao que se sabe, mais de 1,5 milhões de euros. Porém, durante a audiência de quarta-feira, no Palácio da Justiça, pediu a libertação da namorada, com quem tem uma filha.
"Fi-lo por dinheiro e não porque preciso", justificou Giorgi, que apontou o ex-eurodeputado italiano Pier Antonio Panzeri como o cérebro do esquema, em cuja casa foram encontrados 600 mil euros. Giorgi desculpabilizou a companheira, em concordância com o que tinha sido defendido pelo advogado de Kaili - apesar de 150 mil euros terem sido descobertos na habitação comum do casal -, comprometendo-se a fazer "tudo o que é possível" para que a antiga estrela de televisão grega seja libertada e possa "tomar conta" da filha de 22 meses.
Além de Francesco Giorgi, Eva Kaili e Antonio Panzeri, também Alexandros Kailis, pai da ex-líder de Bruxelas, está a ser investigado por alegado envolvimento no Catargate, já que tinha em sua posse uma mala com cerca de 650 mil euros. O namorado de Kaili, no entanto, informam os jornais "Le Soir" e "La Repubblica", que tiveram acesso a documentos judiciais, terá implicado mais dois eurodeputados no caso, o que indica que a investigação pode estar longe do fim.
Giorgi, um dos membros da organização não-governamental (ONG) Sem Paz Sem Justiça, liderada pelo italiano Niccolò Figà-Talamanca, seria o principal responsável por recolher subornos em troca de benefícios aos países envolvidos no esquema, o que, entre outros favores, passaria por limpar a imagem do Estado do Médio Oriente junto da União Europeia (UE). Contudo, apontou ainda Andrea Cozzolino, chefe da delegação do PE para as relações com o Magrebe, e Marc Tarabella como duas das principais figuras na rede de corrupção.
Em declarações às autoridades, o italiano explicou que fazia pagamentos na organização utilizada pelo Catar para subornar eurodeputados e assistentes do Parlamento de modo a obter favores políticos e económicos no bloco comunitário.
Viagens ao Catar e bilhetes para o Mundial 2022
Um exemplo do lóbi catari, frisou ontem Roberta Metsola, presidente do Parlamento Europeu, passava pela oferta de viagens aos parlamentares, bem como a entrega de bilhetes para que pudessem assistir aos jogos do Mundial 2022. A líder maltesa assinalou que a pressão é transversal a vários cargos no PE, assumindo que também foi convidada para ir assistir ao campeonato de futebol, tendo recusado por ter "preocupações com aquele país", referindo-se aos alegados abusos contra os direitos humanos cometidos no âmbito do evento desportivo.
Para evitar mais casos destes, Metsola assegurou que não haverá "impunidade", comprometendo-se, em conjunto com os líderes da UE, a delinear uma reforma contra a corrupção que deverá ser apresentada no início do próximo ano.
"As informações que recebemos das autoridades belgas indicam que existem sérias suspeitas de pessoas ligadas a Governos autocráticos que praticam um tráfico de influência de uma forma que suspeitamos ter a intenção de subjugar os nossos processos", apontou.
Metsola prometeu aplicar propostas que incluam "a proibição de todos os grupos de amizade não oficiais", que às vezes são patrocinados por intermediário de lobbying e Governos estrangeiros. Outra das medidas a ser discutida deverá passar pelo impedimento da entrada de representantes de países terceiros nas instalações da assembleia europeia, especialmente no que diz respeito às autoridades do Catar.