Uma jovem que perdeu as pernas nos ataques terroristas de 2016 em Bruxelas foi a primeira vítima a depor, esta segunda-feira, no julgamento contra os acusados de planear ou ajudar na realização dos atentados.
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A franco-americana Béatrice Lasnier de Lavalette, de 24 anos, desloca-se agora em cadeira de rodas, após sobreviver a um coma, meses em cuidados intensivos e 30 cirurgias, incluindo transplantes de pele nas mãos, pernas e nos ombros.
Béatrice tinha 17 anos em 22 de março de 2016 e preparava-se para embarcar num voo e visitar a família do outro lado do Atlântico quando ocorreu um duplo atentado suicida no aeroporto de Zaventem, próximo da capital belga. Dezasseis pessoas morreram no ataque, número que duplicou uma hora depois, quando ocorreu outra explosão no metro de Bruxelas. Mais de 300 pessoas ficaram feridas nos atentados, cuja autoria foi reivindicada pelo grupo jiadista Estado Islâmico. Nove homens estão a ser julgados em Bruxelas. Um décimo suspeito, que pode ter morrido na Síria, é julgado à revelia.
Béatrice, com queimaduras graves nas duas pernas, viu os socorristas a ajudar vários feridos em seu redor e teve de gritar para que a ajudassem. Mais tarde, soube que não era uma prioridade. "Tinham marcado-me com vermelho, não achavam que eu conseguisse sobreviver", contou, emocionada.
Retirada inconsciente do aeroporto, Béatrice disse que acordou "após um mês em coma no hospital. Tinha 17 anos e a minha vida estava acabada". A jovem teve de amputar as pernas logo abaixo do joelho, precisou de seguir uma reabilitação intensa para recuperar a musculatura, e, após um período de depressão e as consequências da pandemia, uniu-se em 2021 à equipa norte-americana de equitação. Naquele ano, alcançou o seu objetivo de representar os Estados Unidos nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.
O julgamento pelos atentados de 2016 começou em dezembro. Entre os principais suspeitos está o francês Salah Abdeslam, condenado anteriormente por participação nos atentados de 2015 em Paris, nos quais morreram 130 pessoas. As quatro próximas semanas serão dedicadas aos depoimentos dos sobreviventes e dos parentes das vítimas. O processo vai durar até junho.