Corações enlutados pela morte de Isabel II geram enorme aumento nas vendas das lojas de recordações, onde já vários produtos esgotaram.
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Jenny olha para três pratos de cerâmica com a cara de uma Isabel II já de cabelo branco e Mujeeb, londrino de origem afegã, não lhe dá hipótese de fuga. "Leve que estão quase a esgotar", atira. "Quanto custa?". A resposta é a de sempre: "Diga-me quanto dá e logo falamos". Regateios para aqui e para ali e "habemus" preço. Jenny vai levar o prato branco (também há em vermelho e azul) por cinco libras, quase seis euros, e há-de pô-lo na sala de casa, em cima de um móvel de madeira antigo que herdou da avó, com quem partilhava a admiração pela falecida monarca, e onde também mora há muitos anos uma chávena com as palavras Queen Elizabeth II gravadas.
"O negócio melhorou. Há muita gente a querer comprar o chá da rainha, ímans da rainha, canecas da rainha, desde o dia em que morreu. Pratos vendem muito bem", conta Mujeeb, que não perde tempo e logo se dirige a mais um cliente com a mesma conversa.
Desde manhã cedo que há um entra e sai constante em lojas de "souvenirs" na zona de Piccadilly Circus, a praça mais conhecida de Londres. Há turistas estrangeiros, mas a maior fatia é de britânicos. Sem surpresas: além de ser a suprema chefia da estrutura monárquica do Reino Unido, a família real é também um mercado fortemente acolhido por uma franja da população que vive muito do simbolismo.
Há recordações e pechisbeques para todos os gostos, entre toalhas, louças, bandeiras, caixinhas de chá, colheres e outros produtos, alguns mais convencionais, como porta-chaves, outros mais intrigantes, como uma miniatura de Isabel II com corpo dançante, ou boxers com a cara da rainha estampada - dá até que pensar que pode estar a passar ao lado de muita gente uma indústria fortíssima de roupa interior com os rostos dos chefes de Estado deste mundo fora.
Produtos esgotados
A rainha esteve 70 anos no trono e podemos mantê-la nestas lembranças. Assim, de cada vez que as virmos, recordar-nos-ão dela", conta Karly, que fez 190 quilómetros com a família só para prestar tributo à "mulher maravilhosa".
Em mais um dos muitos espaços comerciais da zona, o lojista Shahil diz que o stock de produtos da rainha está quase esgotado: "As pessoas adoravam-na e estão abaladas por esta grande perda, por isso vêm e compram". "Canecas já não há", e a expectativa é que a procura continue a aumentar, daí que já tenham mandado vir mais para compor as prateleiras.
Perto da Buckingham Palace Shop, a loja oficial de presentes da Casa Real, que cumpre o luto de portas fechadas e montra tapada por um pano azul escuro, a "Majestic Gifts" aproveita para fazer negócio e tem em saldo todos os produtos relacionados com a rainha. Mashkura, uma das várias funcionárias da loja, não tem dúvida do grande aumento nas vendas ao longo dos últimos dias: "Deve-se ao respeito que as pessoas têm pela rainha e ao facto de quererem alguma coisa que as lembre dela".
Três horas de comboio para trazer flores
Três dias depois da notícia que deixou a generalidade do país enlutado, ainda há quem ande pelas ruas da capital com ramos de flores nas mãos, em peregrinações até ao Palácio de Buckingham.
São milhares as pessoas que enchem as imediações da residência oficial e continuam a chegar em catadupa, coordenadas pela aplaudível operação montada por agentes da Polícia londrina e seguranças afinados nas instruções.
"A rainha significava muito para toda a gente. É tudo o que conhecemos, é uma grande parte das nossas vidas. Este é um evento histórico gigante", conta Kate, que fez quase três horas de comboio, a partir de Manchester, e que agora aproveita com as filhas a nesga de sol que brotou das nuvens no parque de St. James, em frente ao palácio, um dos três grandes jardins da zona onde, por estes dias, a relva não tem descanso.
Não se deixa fotografar, até porque, diz, "à rainha só interessam as palavras".