Não tinha documentos nem telemóvel: a vida dupla de um dos fugitivos mais procurados do Japão
Depois de meio século em fuga, Satoshi Kirishima, membro de um grupo terrorista anarquista, morreu no final do mês passado. Após a confissão no leito da morte, um teste da ADN veio agora confirmar que o homem era, de facto, Kirishima, um dos fugitivos mais procurados do Japão.
Corpo do artigo
Nascido na província de Hiroshima, Kirishima frequentou uma escola local, começando a extremar a posição política enquanto estudava direito na Universidade Meiji Gakuin, em Tóquio.
Como membro da Frente Armada Antijaponesa da Ásia Oriental (Eaajaf, na sigla em inglês), Kirishima terá plantado uma bomba caseira que danificou o Instituto de Pesquisa Económica Industrial da Coreia, no bairro de Ginza, no distrito de Tóquio, em abril de 1975. Não houve vítimas. Também era suspeito de envolvimento em quatro outros ataques no mesmo ano contra grandes corporações japonesas.
O incidente mais notório aconteceu em 1974, ano em que o grupo colocou uma bomba na sede da Mitsubishi Heavy Industries, em Tóquio, matando oito pessoas e ferindo mais de 360.
Não tinha telefone e recebia o salário em dinheiro
Fugido às autoridades durante cerca de 50 anos, Kirishima levou uma vida modesta. Usando um nome falso - Hiroshi Uchida -, passou cerca de 40 anos a trabalhar para uma construtora em Fujisawa. Para evitar transações bancárias, pediu para receber o salário em dinheiro, adianta a emissora japonesa NHK. Além disso, não tinha telefone, carta de condução nem seguro de saúde.
Ao jornal "Mainichi", os vizinhos garantiram não ter reconhecido o homem e descreveram-no como "calmo e sério", embora tivesse a tendência de tocar guitarra no quarto depois de algumas bebidas. Segundo o jornal japonês "Yomiuri Shimbun", frequentava um bar, onde era conhecido como "Ucchi", para beber cerveja e ouvir rock. Com os outros frequentadores, partilhou um pouco de si, mas nunca o seu segredo mais obscuro.
Aos 70 anos, doente terminal com cancro no estômago, foi admitido no hospital. Sabendo que ia morrer, disse aos funcionários: “Quero encontrar a minha morte com o meu nome verdadeiro”, acrescentando que se arrependia da sua participação nos ataques.
Kirishima morreu pouco tempo depois, no final de janeiro. Um porta-voz da polícia de Tóquio confirmou à AFP que o teste de ADN confirma a confissão. No entanto, a polícia vai agora investigar se alguém ajudou Kirishima a manter-se em fuga durante 50 anos, de acordo com a "Kyodo News".