Jesús foi o nome escolhido pelos pais do primeiro bebé a nascer após um transplante de útero, em Espanha. O menino nasceu em março. A mãe, que nasceu com um defeito congénito, recebeu o útero doado da irmã em 2020.
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Este parto foi o primeiro êxito do Hospital Clínico de Barcelona, num estudo que pretende entender a viabilidade deste tipo de cirurgias.
Apesar de ser uma novidade no país, existem mais de 50 crianças como Jesús, espalhadas pelo Mundo. O Hospital Universitário Sahlgrenska da Universidade de Gotemburgo, na Suécia, foi o pioneiro neste tipo de procedimento. Em 2013, foi realizado o primeiro transplante de útero que, em 2014, originou o nascimento de uma criança nas mesmas circunstâncias, revela o jornal "El País".
De acordo com Francisco Carmona, chefe do serviço de Ginecologia e impulsionador do estudo, o Hospital já recebeu centenas de mulheres interessadas, porém, até à data, foram realizados apenas dois transplantes - um deles o da mãe de Jesús, Tamara Franco.
O jornal explica que, neste estudo, o principal requisito para se candidatar é que a destinatária do útero tenha síndrome de Rokitansky, um problema congénito que afeta uma a cada cinco mil mulheres e que se reflete na falta do órgão reprodutor ou das trompas de Falópio.
Apesar do sucesso da operação, António Alcaraz, especialista em transplantes, admite que a operação requer "uma elevada complexidade técnica". No caso de Tamara, o processo demorou cerca de 15 horas e, logo após ter o filho, realizou uma histerectomia, ou seja, removeu novamente o útero. Esta decisão adveio de um complicado processo de adaptação e complicações que teve logo após o transplante e durante a gravidez.
A taxa de sucesso deste tipo de procedimentos é elevada, estimando-se que apenas 15% a 20% dos casos resultou na perda do excerto (órgão transplantado). Ainda assim, um estudo realizado pela Clínica de Cleveland, em Ohio, nos Estados Unidos, revelou que, dos primeiros 52 transplantes realizados em abril de 2020, apenas 42% resultaram em gravidez.
Existem ainda algumas dúvidas em torno deste processo e dos impactos que tem, tanto para as mães, quanto para os bebés que nascem fruto da cirurgia. Beatriz Domínguez Gil, diretora da Organização Nacional de Transplantes, declarou que tem ainda alguns receios quanto ao procedimento, revela o "El País".
É também posto em causa se este processo tem como principal finalidade responder a um desejo das famílias ou praticar o princípio da medicina, salvar vidas.
Foram também realizados transplantes de útero de dadoras mortas, que resultaram em gravidez. O primeiro caso ocorreu em 2017, no Brasil, tendo sido apenas divulgado nos órgãos de comunicação social em 2018.