Wieliczka, uma das mais antigas minas de sal do mundo, é agora um local de terapia para pacientes que continuam a ter sintomas de covid-19 depois de terem recuperado da doença
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Movendo-se com grande entusiasmo ao ritmo de "Girls Just Want To Have Fun", de Cindy Lauper, um grupo de polacos combate os sintomas que persistem após terem estado infetados com covid-19.
Esta não é uma sessão de exercício normal de condicionamento físico. A cena acontece 130 metros abaixo do solo, perto de um lago de salmoura verde-escuro numa mina de sal no sul da Polónia, que remonta ao século XIII.
"Quando cheguei aqui, adorei o lugar", confidenciou à AFP Jadwiga Nowak, de 60 anos, enquanto outros participantes levantavam bolas de pilates, pedalavam bicicletas ergométricas ou corriam. "Percebi esta atmosfera, esta calma, este silêncio e este ar completamente diferente da superfície. Há magia aqui!", acrescentou a mulher que esteve hospitalizada e ligada a um ventilador durante 16 dias em outubro de 2020.
Uma das minas de sal mais antigas do mundo, Wieliczka é um Património Mundial da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Ao longo dos séculos, os mineiros transformaram-na numa obra de arte única, esculpindo um labirinto de túneis que levam a câmaras e capelas iluminadas por lustres de sal.
Este local é uma atração turística, mas também um spa onde pacientes com problemas pulmonares se tratam há quase 200 anos.
Agora, também recebe pacientes pós-covid encaminhados pela rede pública para internamentos de três semanas, bem como clientes particulares.
Psicoterapia e realidade virtual
Os pacientes descem o antigo poço da mina num elevador para 10 ou 15 pessoas e caminham por túneis de sal. Dentro da câmara do Lago Wessel, com cerca de 15 metros de altura e coberta por terraços de madeira, praticam exercícios de respiração e alongamentos, sob a supervisão de um médico.
"Em geral, os pacientes que sofreram de covid têm sintomas muito mais graves do que os asmáticos normais. Mas os pacientes pós-covid podem recuperar a sua saúde normal. A média é uma melhoria entre 60% e 80% nos seus testes físicos", disse a fisioterapeuta Agata Kita.
Os cientistas consideram que entre 10% e 15% dos ex-pacientes contraem uma "covid longa", com sintomas de fadiga, redução da concentração, dores no corpo e problemas respiratórios.
A Polónia está na vanguarda dos programas de reabilitação e em investigação sobre esta condição, tendo lançado a sua primeira instalação para pacientes pós-covid em setembro.
No hospital Glucholazy, que se localiza na fronteira com a República Checa, uma das primeiras instalações deste género, os pacientes fazem de tudo: desde psicoterapia até jogos de realidade virtual.
Os médicos encontraram mais de 50 sintomas físicos e psicológicos persistentes pós-covid. "Além dos sintomas pulmonares, sofrem de dores musculares e articulares, problemas de equilíbrio e de coordenação, perda de memória e concentração e sintomas relacionados ao stresse e à depressão", explicou Jan Szczegielniak, da Glucholazy, à AFP.
Ar puro
Em Wieliczka, a grande câmara ecoa os exercícios de respiração ruidosos. Com as suas pequenas alcovas perfuradas na rocha, o lugar se assemelha a um teatro surrealista. Num canto, alguns pacientes sopram bolhas de sabão ou pequenos moinhos de vento para testar a sua respiração.
A terapia com sal - ou haloterapia - é muito popular na Europa Central e do Leste, embora os cientistas estejam divididos em relação aos seus benefícios. Alguns acreditam que apenas tem um efeito placebo.
Para Magdalena Ramatowska, médica em Wieliczka, a estadia na mina tem efeitos benéficos. "Principalmente porque aqui o ar é puro. Sem alérgenos. Este ambiente é excelente para o trato respiratório. Tem muita humidade, pouca corrente e muito ar salino, que combate inflamações e bactérias", indicou.