Nos últimos setes anos, a taxa de incidência da tuberculose em Portugal caiu 31%, registando-se 1700 casos no país, no ano passado. Em tendência contrária, o número de casos no Mundo aumentou pela primeira vez em 20 anos. Os especialistas responsabilizam a pandemia e a falta de financiamento pelo crescimento daquela que é vista como a doença dos "pobres".
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A tuberculose matou em Portugal 240 pessoas em 2021, ano em que a incidência se fixou nos 1700 casos, segundo dados divulgados, esta quinta-feira, pela OMS (Organização Mundial de Saúde), no mais recente relatório sobre a doença.
Entre 2015 e 2021, a taxa de incidência caiu 31% e o número de mortes diminuiu 2,1% no mesmo período.
Ainda que em Portugal o número de casos esteja a descer de ano para ano, a tendência global nos últimos 12 meses foi de crescimento. O relatório do organismo, que analisa a resposta de 215 países à doença, estima que no ano passado 10,6 milhões de pessoas adoeceram com tuberculose, mais 4,5% face a 2020. Pela primeira vez em 20 anos, o número de infeções no Mundo aumentou e 1,6 milhões sucumbiram à doença, mais 100 mil casos do que no período homólogo.
A pandemia de covid-19, que levou à rutura dos serviços de saúde, é apontada como um dos fatores para o aumento de casos. Muitas pessoas não foram diagnosticadas a tempo ou não conseguiram receber o tratamento devido aos confinamentos.
"Temos em mãos uma situação muito perigosa, com uma doença transmitida pelo ar que está a ser completamente negligenciada, e que teve abertura para se espalhar ao longo dos últimos dois anos", disse Lucica Ditiu, diretora da Parceria das Nações Unidas para o Fim da Tuberculose (Stop TB Partnership), citada pelo "The Guardian".
"Apesar desta tendência crescente das taxas de mortalidade e infeção por tuberculose, o financiamento para combater a doença diminuiu em 2020 e 2021 de um nível que já era pateticamente baixo. Será porque os governos não se preocupam com o próprio povo? Será porque a vida de uma pessoa que morre de tuberculose é menos importante ou será porque a infeção afeta, principalmente, os pobres do países subdesenvolvidos e é mais confortável simplesmente negligenciá-los?", questionou.
Para Mel Spigelman, presidente da organização TB Alliance, a covid-19 desviou "recursos escassos" dos programas de combate à tuberculose e do desenvolvimento de novas ferramentas para combater a doença, incluindo vacinas. A atual vacina contra a tuberculose tem mais de 100 anos e uma eficácia limitada em adultos. "Os avanços médicos como vacinas, medicamentos mais poderosos e diagnósticos no ponto de tratamento são desesperadamente necessários, agora mais do que nunca", disse ao jornal britânico.
"É talvez a doença da pobreza e, portanto, não há pressão política, nem incentivos financeiros", rematou. De acordo com um relatório de dezembro de 2021 do Treatment Action Group e da Stop TB Partnership, o financiamento global para a tuberculose foi de cerca de 920 milhões de euros em 2020 - muito abaixo do objetivo estabelecido em 2018 pela ONU de dois mil milhões de euros.
A tuberculose é uma doença infeciosa causada pela bactéria "Mycobacterium tuberculosis" e que se transmite por inalação de gotículas expelidas pelo doente quando tosse, fala ou espirra. Ataca sobretudo os pulmões e pode permanecer latente durante muitos anos antes de causar problemas de saúde.
Tedros Adhanom Ghebreyesus, o diretor-geral da OMS, afirmou: "Se a pandemia nos ensinou alguma coisa foi que com solidariedade, determinação, inovação e a utilização equitativa de instrumentos, podemos ultrapassar ameaças graves à saúde. Vamos aplicar essas lições à tuberculose".
A principal fonte de financiamento para a prevenção da tuberculose é conseguida através do Fundo Global de Luta contra a SIDA, Tuberculose e Malária.