Uma semana depois da perda que abalou o Reino Unido, floristas e hortos em Londres veem a faturação disparar para valores recorde.
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Anne traz numa mão uma bengala e, na outra, um ramo de rosas brancas. Simples, só as rosas e um pedaço de ráfia a uni-las, sem cartões nem papel à volta. São para a rainha, que, uma semana depois da morte, continua a receber flores todos os dias, a todas as horas. Sul-africana de nascença e londrina de coração, cabelo mais branco do que as rosas que traz, Anne vem em passo pausado e deixa a oferenda junto ao tronco do maior plátano de Green Park, perto de Buckingham, onde já vão morrendo, aos poucos, milhares de flores.
"Trouxe rosas brancas porque transmitem-me paz e eu quero que a rainha esteja em paz", diz, e depois vai-se, porque o almoço não se cozinha sozinho e já se atrasou mais do que queria à conta das multidões que ocupam os metros e as ruas por estes dias na zona mais central de Londres.
O amor e o respeito dão-se de muitas formas e uma delas é esta: num buquê - seja de rosas ou lírios, as preferidas da rainha; embrulhado ou não em celofane; com ou sem cartas e cartões. Assim se espera que continue até segunda-feira, dia do funeral da mais longeva monarca britânica, que terá lugar na Abadia de Westminster, perto do palácio onde se encontra, desde anteontem, o seu corpo, para adoração das mais de 750 mil pessoas esperadas ao longo dos quatro dias de velório público.
"As vendas de flores melhoraram imenso. Os domingos são sempre dias muito calmos e o domingo passado, por exemplo, foi o mais atarefado de sempre. Vendemos mais 200% do que no anterior. E todos os dias têm sido assim", diz Lewis Edwards, 20 anos, assistente de florista no "Blooms at London", à entrada da estação de metro de Hammersmith, onde o vai-e-vem de locais e turistas ajuda o negócio.
Hidranjas e rosas
A zona fica a meia hora de metro do centro, mas o impacto da perda da rainha também se fez notar aqui, onde se têm vendido, sobretudo, hidranjas azuis e rosas brancas, ora soltas ora em ramos de três a dez. "Vendemos sobretudo pequenos arranjos baratos e fáceis de transportar. Honestamente, as pessoas não querem gastar muito porque a verdade é que não vão ficar com as flores. São para a rainha", diz, rindo-se envergonhado, como que a sentir-se culpado pela sinceridade.
No "Wheelers of Turnham Green", de Chiswick, florista e horto, paraíso de plantas, Alex, alto, loiro, olhos azuis, anda de lado para lado com a sua parca verde-escura a fugir aos pingos da chuva que agora cai. "Desde que a rainha morreu que todos os dias têm sido muito atarefados", conta o funcionário, prevendo que o "gigante aumento nas vendas de flores" continue nos próximos dias, entre duas a três vezes mais. Pessoalmente, não sente a morte da rainha - "É a vida, vamos todos um dia" - mas entende e agradece a mobilização geral.
É o que também diz Jane, gerente da "Bulbous Flowers", que funciona num bungalow de madeira perto de St. James, mais central. Diz que nunca viu nada assim e que duvida um dia voltar a ver: "Não há sequer comparação. Nunca faturámos tanto. Toda a gente quer flores. Só hoje vendi centenas e tenho dezenas de encomendas. São dias bons para o negócio".
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