Discursando esta sexta-feira na 79.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Nova Iorque, o primeiro-ministro israelita fez tudo menos abordar a possibilidade de um cessar-fogo com o Hezbollah. Após críticas às Nações Unidas e ameaças ao Irão, Israel dizimou prédios residenciais no coração do Líbano.
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Benjamin Netanyahu argumentou que Israel tem “todo o direito” de levar a cabo a guerra no Líbano e prometeu que não irá parar enquanto os cidadãos do norte do país não puderem regressar a casa. “Esta guerra pode terminar agora se o Hamas se render”, propôs, mas na condição de o Hezbollah ser derrotado no Líbano. Vários líderes saíram da sala em protesto antes do discurso.
Netanyahu — sobre quem paira um mandado internacional de detenção pelos crimes de guerra cometidos em Gaza — começou por dizer que não pretendia comparecer este ano. Contudo, discursou para silenciar “mentiras e calúnias” proferidas por outros no mesmo pódio e esclarecer que Israel quer a paz. Mas não falou de paz. Nem muito menos abordou o cessar-fogo temporário de 21 dias promovido por vários países, incluindo os aliados Estados Unidos.
Pelo contrário, saudou o desempenho dos soldados israelitas. “Tenho outra mensagem para esta Assembleia e para o mundo fora desta sala: estamos a vencer”, exclamou, aplaudido pela audiência, onde estavam presentes familiares dos reféns raptados pelo Hamas. O primeiro-ministro israelita anunciou que 154 reféns já regressaram, mas apenas 117 vivos, e referiu-se aos eventos de 7 de outubro como “reminiscentes do Holocausto nazi”. Israel também já terá “matado ou capturado” mais de metade do Hamas.
Como prometido, pouco depois do discurso na ONU, Israel bombardeou exaustivamente a capital do Líbano. O alvo seria a sede do Hezbollah, estrategicamente protegida debaixo de um complexo residencial em Dahiyeh, no sul de Beirute, com o objetivo de eliminar Hassan Nasrallah, o líder do grupo. Segundo disse à AFP fonte próxima do grupo xiita, Hassan Nasrallah "está bem". Diversos meios de comunicação social relataram explosões de grandes dimensões. O ministro da Saúde libanês, Firass Abiad, disse que quatro a seis prédios tinham sido completamente dizimados e que os residentes estavam presos nos escombros.
Ameaças ao Irão
Sem rodeios, Netanyahu dirigiu-se abertamente ao Irão, que acusa de estar por detrás de vários golpes a Israel. Primeiro com o Hamas em Gaza, depois com ataques do Hezbollah do Líbano e dos Huthis do Iémen e, em abril, com as trocas diretas de mísseis entre os dois países. E deixou uma ameaça, que estendeu a todo o Médio Oriente: “Não há nenhum sítio no Irão que o longo braço de Israel não alcance.”
Numa demonstração teatral, Benjamin Netanyahu serviu-se de dois mapas para contrastar a “bênção” de Israel e a “maldição” do Irão no Médio Oriente. O argumento é que o Irão é uma força de instabilidade regional, enquanto uma aliança entre Israel e os países árabes poderá ser uma influência estabilizadora. Como é habitual, os mapas de Netanyahu retratam a Cisjordânia ocupada como parte de Israel.
O primeiro-ministro instou a ONU a reaplicar sanções contra o Irão, de forma a garantir que não obtêm armas nucleares, e prometeu retaliar se Teerão atacasse. “O Irão procura impor o seu radicalismo para além do Médio Oriente e ameaça o mundo inteiro”, disse, acusando o Ocidente de apaziguar a repressão interna e a agressão externa iranianas.
Aliança com a Arábia Saudita
O primeiro-ministro disse que Israel tinha uma escolha para lidar com os vários inimigos que o pretendem aniquilar: enfrentar a agressão do Irão ou reconciliar árabes e judeus. Nesse sentido, recordou os Acordos de Abraão, assinados há quatro anos com os Emirados Árabes Unidos para normalizar as relações.
Agora pretende dar continuidade a esse caminho com um “acordo de paz histórico” entre Israel e a Arábia Saudita - que já estaria em cima da mesa antes dos ataques de 7 de outubro e seria “benéfico para a segurança e a economia dos dois países”.
Benjamin Netanyahu rematou com uma questão dirigida às Nações Unidas: quem vão apoiar? Se Israel, o lado da “democracia e paz”, ou o Irão. O discurso terminou com duras críticas e acusações à ONU: “uma casa das trevas” e um “pântano de bílis anti-semita”.