O primeiro-ministro israelita disse, esta segunda-feira, estar a ser alvo de uma "investigação puramente política", depois de ter sido interrogado a propósito do chamado caso "Catargate", acusando a polícia de manter dois dos seus conselheiros como "reféns".
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"Assim que me pediram para testemunhar, disse que estava livre e queria testemunhar imediatamente (...) Percebi que era uma investigação política, mas não sabia até que ponto", declarou Benjamin Netanyahu, num vídeo publicado na rede Telegram.
Netanyahu afirmou também que dois conselheiros, detidos esta manhã (hora local) no âmbito do mesmo caso, "estão a ser mantidos em cativeiro sem motivo" e são neste momento “reféns” da polícia.
As declarações do líder israelita surgem após um interrogatório realizado pelos investigadores, sob ordens da procuradora-geral, Gali Barahav-Miari, e a detenção dos conselheiros Eli Feldstein e Yonathan Urich.
"Esta é uma caça às bruxas política que visa impedir a demissão do chefe do Shin Bet e derrubar um primeiro-ministro de direita", considerou o Likud, partido de Netanyahu, referindo-se à controversa destituição do líder dos serviços de informações internas.
O Shin Bet suspeita que os dois conselheiros receberam subornos do Catar, no caso que ficou conhecido como “Catargate”.
Ambos são suspeitos de cometer crimes de "contacto com agente estrangeiro, aceitação de suborno, fraude, abuso de confiança e branqueamento de capitais", informou o diário progressista Haaretz, que divulgou o caso.
Uma terceira pessoa, identificada pela imprensa local como jornalista, estava a ser interrogada no âmbito do caso, embora não tenha sido detida.
De acordo com a TV israelita Canal 13, os dois homens, que permanecem sob custódia, vão comparecer na terça-feira no Tribunal de Rishon Lezion, onde a polícia deverá pedir uma extensão da detenção.
O Catar, um Estado do Golfo que não tem relações diplomáticas com Israel e há muito acolhe líderes do grupo islamita palestiniano Hamas, também está a mediar as negociações de cessar-fogo na Faixa de Gaza.
Há duas semanas, o executivo israelita aprovou por unanimidade a proposta de Netanyahu de demitir o líder do Shin Bet, Ronen Bar, mas, após recursos, o Supremo Tribunal suspendeu a decisão até à revisão, prevista para 08 de abril.
Apesar desta decisão, Benjamin Netanyahu escolheu o ex-comandante da Marinha Eli Sharvit como novo responsável do Shin Bet.
A procuradora-geral manifestou reservas em relação ao afastamento de Ronen Bar e o Governo também iniciou um processo com vista à destituição.
Reagindo à substituição do chefe do Shin Bet, o líder da oposição israelita, Yair Lapid, classificou, na rede social X, o processo de seleção como "precipitado e irresponsável", relacionando-o com uma tentativa de “encerrar a investigação sobre o 'CatarGate'”.
Outro líder da oposição, Benny Gantz, acusou Netanyahu de “continuar a campanha contra o sistema judicial e conduzir o Estado de Israel para uma perigosa crise constitucional".
Hoje, centenas de manifestantes bloquearam todas as entradas do Knesset (parlamento israelita) em Jerusalém em protestos relacionados com os casos judiciais que atingem Netanyahu e para exigir ao Governo que liberte imediatamente os reféns ainda mantidos pelo Hamas na Faixa de Gaza.
Este é o 14.º dia consecutivo de protestos que começaram depois de o Governo ter anunciado a intenção de demitir Ronen Bar.
Os manifestantes pretendem também que o Governo israelita chegue a acordo para uma nova fase do acordo de cessar-fogo com o Hamas, o que permitiria a libertação dos 59 prisioneiros (dos quais Israel calcula que cerca de 20 estejam mortos) ainda mantidos na Faixa de Gaza.
A trégua assinada entre Israel e o Hamas, em janeiro, resultou na libertação de 33 reféns em troca de quase 1800 prisioneiros palestinianos nas cadeias israelitas.
A guerra foi provocada por um ataque do Hamas no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, matando cerca de 1200 pessoas e tomando 251 como reféns.
Em resposta, Israel lançou um ataque em grande escala na Faixa de Gaza, que já matou mais de 50 mil pessoas, na maioria civis, segundo números das autoridades locais controladas pelo Hamas, destruindo a maior parte do enclave palestiniano, que está mergulhado numa grave crise humanitária.
Durante o mês de março, Israel quebrou a trégua nos combates iniciada em 19 de janeiro com o Hamas e voltou a atacar a Faixa de Gaza.
Estes ataques ocorrem num momento em que as partes não alcançam entendimento para avançar para as etapas seguintes do acordo de cessar-fogo.