O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, ordenou, na segunda-feira, que a plataforma tecnológica VenApp, propriedade do Governo do país, desenvolvesse imediatamente uma aplicação que permita às comunidades reportarem, 24 horas por dia, qualquer situação que pudesse ameaçar a paz da nação sul-americana.
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A medida visa responder ao aumento das tensões diplomáticas e militares com os Estados Unidos, que tem conduzido o Executivo venezuelano a concentrar-se cada vez mais na segurança nacional, reforçando o controlo político e social sobre a população.
Assim, a plataforma "deve operar em conjunto com as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, as Unidades da Milícia Comunitária e as Bases Populares de Defesa Integral, parte do Sistema Nacional de Defesa Territorial", declarou o presidente num ato governamental transmitido pela televisão pública, citado pelo jornal norte-americano "Los Angeles Times".
Esta funcionalidade estará disponível na aplicação VenApp, criada em 2022 e concebida para recolher denúncias sobre problemas que afetam as comunidades, tais como cortes de energia elétrica e outras falhas nos serviços públicos.
Polícia reforçada à noite
Segundo o periódico espanhol "El País", pouco antes do anúncio de Maduro, o ministro do Interior e da Justiça, Diosdado Cabello, também revelou planos para a instalação em massa de câmaras de vigilância, que visam "reforçar a segurança pública". A iniciativa faz parte do chamado "plano de paz", que reforçou visivelmente a presença de forças de segurança nas grandes cidades, especialmente à noite.
Estas medidas poderiam culminar na ativação do "decreto de estado de comoção externa" (equivalente ao estado de emergência), que permite a Maduro ocupar militarmente todo o território venezuelano, dando ao Governo uma ampla autoridade para impor controlos de segurança e punir setores da oposição que Caracas suspeita estarem envolvidos em "homicídios de pessoas ou ações militares contra a pátria".
A aposta nos denunciantes para enfrentar a oposição não é novidade. Criados em 2011, os "patriotas cooperantes", ativistas chavistas que vivem em bairros operários ou áreas residenciais, têm vindo a denunciar movimentos suspeitos ou comportamentos alheios em momentos de agitação política.
Muitas das pessoas presas após as eleições presidenciais de julho de 2024 foram denunciadas por estes informadores, depois de saírem às ruas para protestar contra a declaração oficial da vitória de Nicolás Maduro.