Um jovem português, a trabalhar na Turquia, vive há cinco dias barricado em Taksim, em Istambul. "Está tudo destruído. Os manifestantes construíram barreiras para se proteger da Polícia. Ninguém entra, nem sai, da cidade", conta, ao JN, Luís Maciel. "O único desejo dos turcos é entrar na União Europeia".
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Luís Maciel está na Turquia desde setembro do ano passado. Aproveitou a experiência "Erasmus" de alguns amigos para procurar emprego. Está a trabalhar numa agência de viagens.
Segundo contou ao JN, os protestos na Turquia tornaram-se "tumultuosos". "Arrancaram as pedras da calçada e placas da rua e construíram barreiras à volta de toda a zona de Taksim. Ninguém entra e ninguém sai. Parece que estamos em Berlim". Todas as ruas de acesso à Praça de Gezi estão bloqueadas. Foi a maneira encontrada pelos manifestantes para travar os avanços das autoridades.
"A Polícia tenta dispersar a população com gás lacrimogéneo. As pessoas já saem à rua com máscaras. Começaram por usar as mais simples. Agora já optam por máscaras mais profissionais e até pelo uso de capacetes", acrescenta.
O jovem português conta que as concentrações começam sempre na zona central de Taksim, ao final do dia. "A Polícia está a tentar destruir a muralha. Mas há sempre gente no local, 24 horas por dia". E segundo Luís Maciel, os turcos contam já com a solidariedade portuguesa. "Há estudantes de Erasmus a levar comida aos manifestantes".
"Os turcos reivindicam Taksim. Está tudo destruído e grafitado. Os carros da Polícia foram queimados e as lojas internacionais, como a Zara e a Mango, estão completamente destruídas. Há bandeiras turcas por todo. Evocam o nome de Kemal Atatürk, o primeiro presidente turco. Dizem ter sido o único que trouxe algo de bom ao país. Em Portugal canta-se o Grândola Vila Morena. Aqui evoca-se a figura de Atatürk".
Com o isolamento, começam a faltar alguns bens essenciais nos supermercados. "Há já falhas de pão, água, ovos e iogurtes. Já não compro pão desde a semana passada. Não sei se os camiões de abastecimento vão conseguir entrar na cidade".
A realidade turca não é transmitida nos meios de Comunicação Social, segundo o jovem português. "Não há diretos nas televisões. Não transmitem nada do que se está a passar no país. O Governo está a controlar tudo. Contaram-me que estão a passar documentários sobre pinguins na televisão. Até a Imprensa deixou de noticiar as manifestações".
Tumultos começaram no Parque de Gezi
Luís Maciel conta que tudo começou na Praça de Gezi. "É o último parque verde de Istambul e o Governo queria destruí-lo para construir um shopping. Istambul está cheio de shoppings. A população pegou em tendas e concentrou-se no local. Na passada quinta-feira, a Polícia, cumprindo ordens do Governo, tentou desalojar os manifestantes. A partir daí, as coisas pioraram".
"As pessoas não vão desistir até que o Governo se demita", assegura. "Ninguém quer destruir o país. Os turcos só querem entrar na União Europeia".
Luís Maciel refere, ainda, que nas ruas de Istambul se começou a vender álcool. "Até há bem pouco tempo, era praticamente impensável. Agora continua a ser ilegal, mas as pessoas desafiam o Governo e trazem álcool de casa. Vendem e bebem nas ruas. Querem os mesmos direitos que os europeus, dizem".