Estudantes do secundário e jovens trabalhadores juntam-se a grevistas. "Fortes perturbações" nos transportes e boicote a estaleiro dos Jogos Olímpicos.
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Após 15 horas de debates no Senado, eram 00.10 horas locais desta quinta-feira, a Direita e o centro da câmara alta do Parlamento francês aprovaram o polémico artigo do projeto de alteração da lei das pensões, que aumenta a idade de reforma de 62 para 64 anos e que prolonga o número de anos de descontos - outra norma que mantém o país sob greves e protestos.
Com 201 votos, nomeadamente dos Republicanos, da União Centrista, dos independentes e dos senadores "macronistas", passou o artigo 7.º do projeto que 155 opositores de Esquerda tentaram travar, numa maratona que prossegue em contagem descendente. Ao final da tarde desta quinta-feira, tinha sido votada a norma que antecipa a reforma para os 63 anos a quem tenha começado a trabalhar aos 20 ou 21.
Depois de a Assembleia Nacional (câmara baixa) não ter conseguido votar o projeto, o Senado tem até ao final de domingo para concluir a tarefa, que passa por outra norma polémica - a aplicação, em 2027, da exigência de 43 anos de contribuições para a previdência.
Se até ao dia 26 as duas câmaras não convergirem no texto final, o presidente francês, Emmanuel Macron, usará da prerrogativa de o aprovar por decreto, desafiando a ira social que volta a recrudescer. Na terça-feira, uma greve geral paralisou o país e 1,8 milhões de manifestantes, segundo as autoridades, ou 3,5 milhões, segundo a Confederação Geral do Trabalho (CGT) saíram às ruas.
Reagindo à votação, 14 centrais sindicais, entre as quais, além da CGT, a Força Operária (FO) e a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), dirigiram uma mensagem a Macron, sinalizando "a urgência do momento e a gravidade das suas consequências", propondo uma reunião e avisando que o silêncio presidencial é "um grave problema democrático" que "levará inevitavelmente a uma situação que poderá tornar-se explosiva".
Fortes perturbações
"É preciso fazer o quê para ser compreendido?", notou o secretário-geral da CFDT, Laurent Berger, no início do novo dia de paralisação em setores vitais - aos quais se juntaram organizações de estudantes e jovens trabalhadores - como os transportes, a recolha de lixo e a energia, com "fortes perturbações" na circulação ferroviária, o bloqueamento de refinarias e terminais de gás natural e a afetação de centrais de produção de eletricidade e até boicotes.
Alertando para a existência de "uma espécie de incompreensão, de mal-estar e de cólera que começa a crescer", questionou: "Será que é necessário cair na violência?"
Em Paris, numa ação "nunca vista", segundo um dirigente da Federação da Energia e Minas (CGT), foi cortado o fornecimento de energia ao estaleiro da construção da aldeia olímpica dos Jogos Olímpicos de 2024, que afetou também o Estádio de França, o seu quarteirão comercial e três centrais de dados.
Entre esta sexta-feira e domingo, as greves deverão intensificar-se, alastrando ao tráfego aéreo, a tal ponto que a Direção-Geral da Aviação Civil pediu às companhias que anulem entre 20% e 30% dos voos.