A ONU considerou, esta segunda-feira, que a autorização de entrada de nove camiões de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, após 11 semanas de bloqueio, é “uma gota de água no oceano”.
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Israel indicou, entretanto, que apenas cinco camões de ajuda humanitária entraram no enclave palestiniano.
O líder humanitário da ONU, Tom Fletcher, sublinhou que a autorização de Israel para retomar uma “ajuda limitada” é “um desenvolvimento bem-vindo que deve manter-se”, mas “é uma gota no oceano e muito mais ajuda deve ser autorizada a entrar em Gaza, a partir de amanhã [terça-feira] de manhã”, declarou em comunicado.
"Hoje, nove dos nossos camiões foram autorizados a entrar através da passagem de Kerem Shalom", sublinhou.
Embora nenhuma ajuda humanitária tenha entrado no território palestiniano desde 2 de março, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou no domingo que ia autorizar a entrada de uma "quantidade básica de alimentos destinados à população, a fim de evitar o desenvolvimento da fome na Faixa de Gaza".
"As quantidades limitadas agora autorizadas a entrar em Gaza não substituem, evidentemente, o acesso sem entraves aos civis necessitados", insistiu Tom Fletcher, lembrando que a ONU tem um plano para fornecer ajuda em grande escala no território palestiniano.
Na semana passada, a ONU explicou que tinha camiões carregados com 171 mil toneladas de alimentos à espera de serem autorizados a entrar.
Durante o cessar-fogo de 42 dias no início do ano, quatro mil camiões de ajuda entraram no território todas as semanas, segundo a ONU.
"Recebemos garantias de que o nosso trabalho será facilitado através dos mecanismos existentes que já deram provas", afirmou Tom Fletcher, embora a ONU tenha excluído participar na distribuição de ajuda pela Fundação Humanitária de Gaza (GHF), criada de raiz e apoiada pelos Estados Unidos.
Fletcher apelou ainda a Israel para que abra "pelo menos dois pontos de passagem para Gaza", para que "simplifique e acelere os procedimentos e levante todas as quotas", e satisfaça todas as necessidades em termos de "alimentos, água, higiene, abrigo, saúde, combustível...".
As autoridades israelitas já tinham anunciado que tinham deixado passar camiões com alimentos para bebés, sem especificar quantos. Mais tarde, adiantaram que foram cinco, e não nove, os camiões autorizados a entrar na Faixa de Gaza.
As agências da ONU e as organizações não-governamentais (ONG) que trabalham em Gaza têm vindo há várias semanas que a assinalar a escassez de alimentos, água potável, combustível e medicamentos no território palestiniano, em guerra há mais de 19 meses.
“Dois milhões de pessoas estão a passar fome” em Gaza, enquanto “toneladas de alimentos estão bloqueadas na fronteira”, lamentou o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Israel impôs um bloqueio ao território palestiniano de 2,4 milhões de habitantes em março, depois de ter posto termo a um cessar-fogo negociado em janeiro, durante o qual trocou vários reféns israelitas por prisioneiros palestinianos.