No aniversário da independência do país, milhares saíram às ruas em apoio à junta no poder. Portugal condenou o golpe, enquanto EUA e Reino Unido esvaziaram as embaixadas.
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Nove dos dez cidadãos portugueses que manifestaram a vontade de sair do Níger, após o golpe perpretado por militares contra o presidente democraticamente eleito Mohamed Bazoum, já foram retirados do país, segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), que estima que a saída do último nacional acontecerá “para breve”. Esta quinta-feira, manifestações pró-golpe decorreram de maneira pacífica pelo país, e contaram com a presença de milhares de pessoas favoráveis à destituição do Governo pela junta militar.
Em comunicado, o MNE assinalou a “disponibilidade e apoio dos parceiros europeus, e em especial das autoridades francesas e da delegação da União Europeia”, na operação de evacuação. Paris confirmou hoje a conclusão das operações de repatriamento, que retiraram 1079 pessoas do Níger, de diversas nacionalidades.
A diplomacia portuguesa condenou “toda e qualquer tentativa de subversão da ordem constitucional, a qual deve ser rapidamente restaurada”, e reiterou que “o diálogo entre as partes deve prevalecer, evitando a escalada de violência e garantindo a libertação do Presidente Bazoum e demais Ministros entretanto detidos”, expressando uma posição análoga à da “União Africana” e da “Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, em linha com a União Europeia”.
Milhares de manifestantes saíram às ruas hoje para demonstrar o seu apoio ao golpe, no 63.º aniversário da independência do Níger. Num protesto calmo, participantes em Niamey entoaram gritos anti-França e levantaram placas onde se lia “Abaixo a França” e “Viva a Rússia, viva Putin”. A ex-potência colonial mantém cerca de 1500 soldados franceses no país, para combater os grupos terroristas armados na região do Sahel - o Palácio do Eliseu confirmou que não há previsão para a retirada dos militares.
“É apenas a segurança que nos interessa”, seja através da “Rússia, China ou Turquia”, declarou à agência France-Presse (AFP) o manifestante Issiaka Hamadou, na Place de l’Indépendance, em Niamey. “Não queremos os franceses, que nos têm saqueado desde 1960”, acrescentou.
Paris também condenou o bloqueio das transmissões dos média franceses France24 e RFI no Níger, “por instruções das novas autoridades militares”, de acordo com uma fonte citada pela AFP.
Retirada Diplomática
Devido às incertezas sobre a segurança no país, o Reino Unido e os EUA ordenaram a retirada parcial dos seus funcionários das embaixadas, entre os protestos nigerinos pela redução da presença ocidental no país. De acordo com uma fonte do Departamento de Estado norte-americano, citada pela AFP, os EUA fretaram um avião para a retirada dos funcionários da sua embaixada, em voo que também estará aberto a cidadãos norte-americanos que desejem deixar o país, mas “há muitos [americanos] que não querem sair”, segundo a mesma fonte.
O presidente Joe Biden apelou ontem à “libertação imediata” do chefe de Estado destituído e da sua família. O líder da Casa Branca clamou pela “preservação da duramente conquistada democracia no Níger”. O pedido decorreu no mesmo dia em que o general Abdourahmane Tchiani, auto-proclamado presidente do Conselho Nacional para a Salvaguarda da Pátria, atual governante do país, avisou a população contra a ingerência militar estrangeira no Níger.