O novo Governo de transição ucraniano possui uma experiência reduzida em gestão política e inclui figuras com percursos diversos, com a particularidade de terem participado nos protestos que acabaram por afastar do poder o presidente Viktor Ianukovich.
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Dirigido pelo primeiro-ministro Arseniy Yatsenyuk, o novo executivo terá como principal tarefa combater a crise política e económica da antiga república soviética, um desafio complexo mesmo para uma equipa com experiência.
Antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, Arseniy Yatsenyuk, 39 anos, prescindiu da sua imagem tecnocrática para se tornar num dos três mais destacados líderes da revolta "pró-europeia" que derrubou Ianukovich. Antigo deputado e considerado um "operacional de bastidores", o antigo advogado foi ministro da Economia e vice-presidente do banco central, e dirigiu no parlamento o partido da líder da líder da oposição Iulia Timoshenko.
O ministro do Interior, Arsen Avakov, já se tornou numa das mais destacadas figuras da era pós-Ianukovich pelos frequentes comentários no seu Facebook sobre a situação no país, em particular na área da segurança. Membro do partido Batkivshchina (União pan-ucraniana Pátria) de Timoshenko, dirigiu a região de Karkiv até à eleição para a presidência de Ianukovich em 2010. Viveu em Itália entre 2012 e 2013 em "imigração política" após um processo criminal mas os tribunais italianos recusaram a extradição.
Andriy Deshchitsia, ministro dos Negócios Estrangeiros, destacou-se por ter sido um dos primeiros diplomatas ucranianos a apoiar os protestos, iniciados em novembro de 2014 quando o chefe de Estado ucraniano decidiu suspender a assinatura de um acordo de associação com a União Europeia (UE) e reforçar as relações comerciais com a vizinha Rússia. Cumpriu funções diplomáticas na Finlândia e Polónia mas esta será a sua primeira experiência num executivo. É ainda representante especial da OSCE para situações de crise.
O vice-primeiro-ministro, responsável pela integração europeia, Boris Tarasiuk, 65 anos, é considerado uma das figuras mais experientes do novo Governo. Iniciou a sua carreira como diplomata ainda durante a União Soviética, foi chefe da diplomacia (1988-2000) e ainda entre 2005 e 2007. Fortemente pró-UE, denunciou perante os manifestantes a eventual adesão da Ucrânia e a uma união aduaneira com a Rússia.
Pavlo Sheremeta, ministro da Economia, terá uma das pastas cruciais no novo Governo, num país à beira do colapso financeiro. Não tem experiência política mas estudou nos Estados Unidos, fundou a escola de economia "Kyiv Mohyla Academy" e era até agora o responsável pela Escola de Economia de Kiev.
Igor Teniukh, ministro da Defesa, foi comandante naval ucraniano entre 2006 e 2010. Foi demitido por Ianukovich em 2010 e apoiou a recente rebelião.
O novo chefe da segurança nacional, Andriy Parubiy, um deputado do partido de Timoshenko, foi o designado "comandante" do campo de protesto na Praça da Independência em Kiev (Maidan), que se manteve durante três meses.
O ministro da Energia, Iuriy Prodan, ocupou o cargo entre 2007 e 2010 durante a presidência de Viktor Iushchenko, sendo um dos poucos membros da nova equipa que já desempenhou anteriormente as mesmas funções.
O executivo inclui ainda seis outras pastas (incluindo Educação, Saúde, Cultura e Desportos), com destaque para a chefe do novo gabinete "anticorrupção", Tetiana Chornovil, e o Comité de Lustração, dirigido por Yegor Sobolev, 37 anos, com a missão de afastar de todas as instituições ucranianas os aliados de Ianukovich.