
O ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Laurent Fabius (direita), recebeu esta terça-feira o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, num momento tenso nas relações entre os dois países
Philippe Wojazer/Reuters
Os serviços secretos dos Estados Unidos não só intercetaram milhões de comunicações de cidadãos franceses como também espiaram as representações diplomáticas de França em Washington e em Nova Iorque, noticiou esta terça-feira o diário "Le Monde".
O diário francês citou documentos da Agência Nacional de Segurança (NSA) norte-americana, revelados pelo ex-consultor informático Edward Snowden, que pormenorizam os métodos e dispositivos eletrónicos para vigiar as embaixadas.
Um dos documentos, datado de 10 de setembro de 2010 e classificado como secreto pela NSA, revela a existência de um programa denominado GENIE, relativo à colocação de dispositivos de escuta em computadores.
A nota, dirigida aos operadores da NSA, menciona a vigilância à embaixada de França em Washington, identificada com o código "Wabash", e à representação francesa junto da ONU em Nova Iorque, com o código "Blackfoot".
O documento explicita diferentes técnicas de recolha de informação: "Highlands", para piratear computadores à distância, ou "Vagrant", para captar o conteúdo dos monitores.
Outro documento, datado de agosto de 2010 e emitido pela direção de informação eletrónica da NSA, refere que as informações obtidas das embaixadas estrangeiras, e em particular de França, tiveram um papel importante na votação de 9 de junho desse ano no Conselho de Segurança da ONU de uma resolução contendo um novo pacote de sanções ao Irão pelo seu programa nuclear.
Segundo a análise da agência, a operação foi "um êxito silencioso que ajudou a desenhar a política externa dos Estados Unidos". O documento cita mesmo a então embaixadora dos Estados Unidos junto da ONU, Susan Rice, sobre o trabalho da NSA: "Isso ajudou-me a conhecer (...) a verdade, a revelar as posições sobre as sanções, e permitiu-nos conservar uma vantagem nas negociações".
O "Le Monde" tinha noticiado na segunda-feira, também com base em documentos da NSA, uma espionagem maciça das comunicações telefónicas em França que, em apenas 30 dias entre finais de 2012 e princípios de 2013, levou à interceção de 70,3 milhões de comunicações.
A revelação destes atos de espionagem levou o Governo francês a exigir explicações aos Estados Unidos e a condenar o recurso a tais práticas entre aliados.
