Os excrementos de cão encontrados na sola do sapato de um homem ajudaram a identificar o autor de um homicídio, na Argentina. No EUA foram os pelos do gato que tramaram o assassino.
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A genética forense veterinária deu um salto qualitativo nos últimos anos, segundo investigadores da área reunidos no último congresso da Sociedade Internacional para a Genética Forense, organizado, em setembro, em Praga, na República Checa.
Um dos exemplos destes avanços, recordado em Praga, foi o da ajuda à resolução de um homicídio em Buenos Aires, na Argentina, em 2015. O principal suspeito do crime tinha excrementos de cão na sola de um sapato, quando foi detido.
"As fezes que tinha pisado podiam ser do animal de estimação da vítima", recorda Guillermo Giovambattista, diretor do Instituto de Genética Veterinária (IGV) da Argentina, que foi chamado para ajudar a desvendar o homicídio.
A equipa do IGV comparou amostras de ADN do cão da vítima com os excrementos encontrados na sola do sapato do suspeito e concluiu que era 20 vezes mais provável que pertencessem ao mesmo cão. Não era uma prova conclusiva, mas foi suficiente para se juntar a outras evidências e ajudar a apanhar o culpado.
O caso não é único, tão-pouco o mais antigo. Já em 1997 a genética animal forense tinha sido fundamental para deslindar um crime, na América do Norte. O gato "Snowball" é uma espécie de mascote na área, que despertou interesse para esta ciência, há 25 anos.
Em 1994, Shirley Duguay, uma mulher de 32 anos, foi encontrada morta em casa, na ilha do Príncipe Eduardo, no Canadá. Os investigadores encontraram no local do crime um casaco de couro, do presumível homicida, manchado de sangue e com pelos de gato.
O inspetor da polícia Roger Savoio tentou demonstrar que os pelos pertenciam ao gato do principal suspeito, Douglas Beamish, ex-companheiro da vítima. Após análise, os cientistas forenses concluíram que os pelos eram, efetivamente, de "Snowball", o gato de Beamish, que viria a ser condenado a 18 anos de prisão.
Foi a primeira vez que o ADN animal foi usado num julgamento. "A realidade é que este não é um tipo de análise muito requisitado aos laboratórios forenses", lamenta Antonio Alonso, diretor do Instituto Nacional de Toxicologia e Ciências Forenses, em Las Rozas, nos arredores de Madrid, Espanha.
Os geneticistas querem fazer com os cães (e gatos) o que já conseguem com humanos. "Já podemos prever com bastante precisão a raça de um cão e a cor a partir de uma amostra de ADN", explica Christopher Phillips, da Universidade de Santiago de Compostela, na Galiza, Espanha, e investigador do projeto CaDNAP, um grupo de geneticistas europeus dedicado à análise de material genético canino.
"O cão, o melhor amigo do homem, vai ser cada vez mais relevante nas investigações forenses e ajudará a identificar os culpados e, portanto, a reduzir o número de crimes", considera a bióloga Josephin Heinrich, investigadora da Universidade de Medicina de Innsbruck (Áustria).
Cada célula de um cão tem três mil milhões de marcadores de ADN, com as instruções que lhe permitem ladrar, mover o rabo ou saltar de alegria quando vê o dono.
Os cientistas do CaDNAP procuram identificar, agora, pequenas variações nos marcadores que estejam associadas ao aspeto de um cão. Identificaram já 43 destes marcadores genéticos, que servem para dizer, com uma probabilidade de 80%, a cor de um cão ou a forma do crânio.
O grupo trabalha agora para afinar o método e prever também o tamanho corporal, a cor dos olhos, a morfologia do pescoço e a forma das orelhas.
