Portugueses e lusodescendentes explicam escolhas. A insegurança económica e física são os motivos que vão direcionar o seu voto nas eleições de depois de amanhã.
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O clima de violência que se vive no Brasil é encarado como uma das principais preocupações quer por parte dos portugueses ou lusodescendente apoiantes de Jair Bolsonaro quer por parte dos apoiantes de Fernando Haddad, os dois candidatos que lideram a intenção de voto nas presidenciais deste domingo. À frente nas sondagens, Bolsonaro é, para o eleitorado mais conotado com a Direita, o salvador da Pátria. Para a Esquerda, é uma ameaça à democracia.
Apesar de se identificar com o espectro político do Centro, Armando Coelho, economista de 43 anos, vai votar Bolsonaro. Não quer que o Partido dos Trabalhadores (PT) volte ao poder. Reside em Juiz de Fora, a cidade de Minas Gerais onde o candidato do Partido Social Liberal (PSL) foi esfaqueado em pleno comício. Identifica-se com ele, por ser conservador, defender a família tradicional, ser contra a chamada "ideologia de género" e outras ideias "progressistas".
"Creio ser inevitável compará-lo a líderes populistas de Direita na Europa e a Trump, mas não acredito ser o caso. Ele representa e sintetiza o sentimento, se não da maior parte, de grande parte dos brasileiros", acredita Armando. "Na total ausência de argumentos, a mídia e a Esquerda chamam-no de racista, homofóbico e machista, o que definitivamente não procede. O que ocorre é que ele simplesmente não levanta essas bandeiras".
"Não concordo com a maioria das ideias de Bolsonaro, associadas à extrema-direita, mas neste momento parece a pessoa certa para arrumar a casa", completa Paulo Oliveira, 57 anos, administrador de uma rede de distribuição alimentar. "É um militar disciplinador, defende um país com segurança pública, sem bandidos nem milícias, está disposto a acabar com privilégios instituídos e tem o exército do lado dele", argumenta. "É o melhor candidato para a mudança e transição necessárias".
Diz o que a classe média pensa
Isabel Fontinhas, 32 anos e formada em Direito, também confia que Bolsonaro é a melhor solução para o Brasil. "Vem com outra visão política, mais radical, e tem conquistado a população que está ansiosa por mudanças e melhorias". Admite o radicalismo de "algumas ideias" de Bolsonaro, mas acredita que "não serão postas em prática". "Alguns posicionamentos dele condizem com o que a maioria da população de classe média pensa, mas não tem coragem de dizer".
A viver no Brasil há 60 anos, Jorge Faria, 75 anos, produtor de cinema aposentado, também defende que só Bolsonaro poderá acabar com o problema que domina o país: a violência.
"Ou há uma volta de 180 graus ou irá haver milícias e uma guerra civil. Temos de banir o PT ou estamos desgraçados. Vamos ter outra Cuba, outra Venezuela". Como Isabel, não subscreve todas as ideias do candidato do PSL, entre elas a generalização do uso de armas. "Se não, vai haver bang bang todos os dias".
Caso Bolsonaro seja eleito, o produtor de cinema defende que terá de "limpar metade dos deputados e dos senadores" e contar com o apoio dos militares para combater a corrupção e a criminalidade. "Pode acontecer uma ditadura militar. Não quero, mas corro esse risco, porque a violência é uma coisa louca. As pessoas têm medo. Quem está a dominar o Rio são os traficantes e a milícia, composta por ex-policiais".
A pobreza no centro do drama
Já Margarida Alves, guia turística de 46 anos, equaciona regressar a Portugal caso Bolsonaro ganhe as eleições. Apoiante de Fernando Haddad, acredita que o candidato do PT vai "trazer de volta a prosperidade, a estabilidade e o desenvolvimento da era Lula, durante a qual o Brasil registou os maiores índices de crescimento e o menor nível de desemprego da História".
"Num país com uma desigualdade social profunda, a pobreza causa um impacto imediato nas ruas, com insegurança e um aumento gritante de moradores de rua", lamenta Margarida Alves. "Famílias inteiras com crianças de colo desceram das favelas e ocuparam as ruas do Rio de Janeiro". A solução, acredita, estará em Haddad, único que vê capaz de restabelecer programas como o Fome Zero, o Bolsa família, o Luz para Todos, que "foram reconhecidos e elogiados por organismos internacionais como a FAO e UNESCO".
Lésbica e casada, Nádia Corrêa, 43 anos, aromaterapeuta, demarca-se do discurso de Bolsonaro. "Ele favorece a classe mais rica, a elite brasileira. Precisamos da nossa democracia de volta. É a primeira vez na minha vida que vou votar num petista, porque acho Haddad muito capacitado e porque é a favor da igualdade de género".
Já Gustavo de Sá, 37 anos, professor de História e guia turístico, escolheu Ciro Gomes. Tem um "posicionamento Centro-Esquerda moderado, um plano de Governo muito bem elaborado e formação académica para administrar o Brasil".
Independentemente do vencedor das eleições, todos os portugueses ou lusodescendentes ouvidos pelo JN manifestam receio em relação ao que se irá passar depois. Conscientes que quer um quer outro terão dificuldades em governar, admitem que se venha a instalar uma ditadura militar caso Bolsonaro seja eleito, ou que se dê um golpe militar se for Haddad o vencedor. "O Brasil está entre a espada e a parede", diz Margarida.