A 20 de julho de 1969, o Homem pousou na Lua pela primeira vez. Um "salto de gigante para a humanidade" que o "Jornal de Notícias" acompanhou com grande destaque durante vários dias, desde a partida ao regresso à Terra. Um reconhecimento, sem reservas, da importância deste marco da História.
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A imagem do módulo lunar pousado na Lua com Neil Armstrong a dar o "pequeno passo" ocupou grande parte da primeira página do "Jornal de Notícias" de 21 de julho de 1969. A notícia da chegada à Lua superou, folgada, a menção à entrevista a Joaquim Agostinho, o oitavo classificado da Volta a França em bicicleta. Duas proezas que atiraram para rodapé a notícia do primeiro transplante de um rim em Portugal, operado em Coimbra.
"Êxito absoluto: o homem chegou à lua", titula a edição de 21 de julho, ilustrada com uma "antevisão artística" do momento em que Armstrong pisara o solo lunar, a cerca de 360 mil quilómetros da madrugada no Porto, já a edição estaria fechada e a sair da gráfica para as dezenas de carrinhas que levavam as "últimas". Cortesia entre camaradas de profissão, no dia, "de calor em todo o país", em que Armstrong e Aldrin pisaram a Lua pela primeira vez, a direção do "Jornal de Notícias" felicitou o rival "Diário do Norte", que entrava no 21.º ano de publicação. "Ao seu diretor António Cruz, e a todos quantos trabalham naquele jornal, apresentamos sinceras felicitações", lia-se na primeira página, também.
Horas depois, o assunto voltou a fazer correr muita tinta. Literalmente. "O homem está desde há poucas horas na Lua. Está fresca a tinta do jornal que transcreve estas linhas, como frescas estão, pelo menos no sentido subjetivo, as pegadas com que Armstrong e Aldrin violentam a esfíngica serenidade do satélite", escreve o JN, numa nota da direção, sob o título "Plus Ultra", que abre a edição especial que saiu para as bancas na tarde do mesmo dia 21 de julho, para explicar melhor o que a edição matinal já noticiara. De costas para a objetiva, de frente para o módulo lunar, Armstrong foi fotografado a pousar cuidadosamente o pé esquerdo na lua, "cavando na poeira serena a primeira pegada humana às 3 e 57 horas" de Portugal continental.
"Aldrin fotografou este histórico passo de bordo da Águia, a nave lunar que poucas horas antes descera no satélite natural da Terra", escreve o JN. O texto que emoldura a foto de Armstrong na Lua relata as impressões do primeiro homem a pôr um pé no satélite natural da Terra. "Posso ver perfeitamente a minha pegada. Parece não ser difícil mover-me", lê-se na edição especial do "Jornal de Notícias" de 21 de julho de 1969, que justifica a pouca visibilidade da fotografia com a fraca qualidade da transmissão televisiva. "Ainda assim vale a pena publicar este documento único que é um marco da História da Humanidade", justifica o jornal, que era dirigido por Manuel Pacheco Miranda, que ficou conhecido na casa apenas como "o senhor Diretor".
A edição especial tem a primeira página toda tomada pela proeza. "Devido aos vossos esforços, o céu é domínio humano", lê-se noutro título, dando forma escrita às palavras ditas ao telefone pelo então presidente dos EUA, Richard Nixon, numa conversa com os astronautas. "O que se segue à Lua? Marte? Vénus? A resposta não nos parece fundamental neste momento, não ganha foros senão de particularidade sem relevo especial par dar lugar a uma realidade indesmentível, a Humanidade fechou um capítulo da sua História e abriu um novo capítulo - o da sua expansão para além dos limites apertados do Globo".
O feito voltou a conquistar a primeira de 22 de julho, o dia seguinte. "Armstrong e Aldrin disseram adeus à lua", titula o JN. "A partida do módulo lunar da Base Tranquilidade processou-se exatamente no momento previsto, às 17 horas e 54 minutos TMG. Após uma série de complicadas manobras, os dois primeiros homens que pisaram o solo da Lua juntaram-se à nave Colúmbia, que continuava em órbita pilotada pelo astronauta Collins", o terceiro homem da missão Apolo 11. Aquele que viu tudo, que foi ao espaço, tão perto, mas não pôs um pé na Lua.
A odisseia foi acompanhada pelo "Jornal de Notícias" com grande destaque, desde o lançamento do foguetão, a 16 de julho, até ao regresso a terra, a 25. Nesses dias, o JN manteve o tema como destaque principal da primeira página. "Apolo-11" desce amanhã no Pacífico", titula o JN, a 23 de julho de 1969, sem esquecer que "recupera bem" o primeiro homem a ser transplantado com um rim em Portugal, três dias antes.
"Descem hoje (às 17,20 h) os astronautas". Sem mais, letras garrafais, que já todos sabiam de quem se falava, o JN volta a destacar, a 24 de julho de 1969, o "grande salto para a humanidade", numa primeira página muito marcada pelos temas internacionais: O desafio do presidente egípcio, Gamal Abel Nasser, a Israel - "estamos prontos para a luta" - e a retirada da carta de condução a Edward Kennedy. João Carlos, hoje Juan Carlos rei emérito de Espanha, era, então, o príncipe e foi notícia por receber das mãos de Franco as "chaves da monarquia" espanhola.
Numa primeira página em que divide o destaque fotográfico com uma mãe, na cama de hospital, com duas cabecinhas de cada lado, os quatro gémeos que nasceram no hospital de São João, e a "Feroz Luta aérea no canal de Suez" - pelos vistos Nasser falava a sério no dia anterior - a missão à Lua também foi o destaque principal do JN de 25 de julho. "Missão cumprida! Chegaram a terra os homens da Lua", lê-se, com os parabéns de Nixon. "Sois grandes!"