Em pleno Portugal colonialista, a edição de 3 de julho de 1964 do JN dava a manchete à dupla notícia da aprovação, pelo Congresso dos Estados Unidos da América, da Lei dos Direitos Civis - o Civil Rights Act - e da sua promulgação pelo presidente norte-americano, Lyndon B. Johnson, que tardou a vigorar de facto ao longo dos anos...
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"E.U.: Já entrou em vigor a lei dos direitos cívicos", destacava no topo da primeira página. "Os negros vão pôr à prova a nova igualdade", acrescentava em pós-título. A lei pretendia "combater a discriminação racial em todos os campos" e seria posta "à prova" por "dirigentes integracionistas", a começar pela "cláusula proibindo a discriminação racial nos locais públicos: cafés, restaurantes, parques"......
Resultado "de mais de um ano de debates entravados por manobras dilatórias dos senadores e dos representantes do Sul", ou seja, de "tradição" esclavagista e segregacionista, a lei noticiada tem origem num contexto - que o JN não explica - de violenta e desenfreada segregação, perseguição e assassínios de negros, especialmente na década de 1960, nomeadamente por parte do tristemente famigerado grupo supremacista Ku Klux Klan (KKK), mas também de resistência da comunidade afroamericana.
Um momento alto da resistência foi a "Marcha de Washington", a 28 de agosto de 1963, com mais de 200 mil manifestantes pacíficos, perante os quais o líder negro Martin Luther King pronunciou o célebre discurso "Eu tive um sonho". Foi então que o presidente de então, o democrata John F. Kennedy, apresentou o projeto de lei. Viria a ser assassinado pouco depois, a 22 de novembro desse ano. King seria morto também, em 4 de abril de 1968.
A notícia do JN mostra que o diploma foi aprovado por uma Câmara dividida, e não necessariamente em termos partidários. "Dos 289 representantes que votaram o projeto (...), 153 são democráticos e 136 republicanos. Os votos desfavoráveis repartiram-se entre 91 democráticos e 35 republicanos", precisa, citando um democrata da Virgínia, Howard Smith, a argumentar que a lei "engendraria a violência", e outro, da Georgia, Charles Waltner, a conceder: "Não devemos ficar ligados a uma causa perdida... é preciso construir um novo sul".
O presidente Johnson, narra o JN, "considerou um passo em frente "na longa luta pela liberdade"" e "fez um apelo a todos os americanos para aderirem ao esforço de levar justiça e esperança a todos os cidadãos".