Maurício Leal, 47 anos, morreu em novembro: o seu corpo foi achado em casa, na cama, deitado ao lado da mãe e a mãe também estava morta. Um bilhete escrito à mão apontava: ele matou a mãe e a seguir suicidou-se. Mas depois, o irmão do cabeleireiro foi preso, acusado e já confessou: foi ele, Jhonier, irmão mais velho invejoso, que os matou. Mas esta novela de crime não fica por aqui.
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Magro, de pele clara, madeixas loiras no cabelo, bonito e solteiro, Maurício Leal estava no pico da popularidade: o seu salão de estilismo capilar, na zona chique de Bogotá, capital da Colômbia, vivia em frenesim e não era fácil agendar uma sessão com ele -- aparecer na sua página de Instagram, inundada de fotos cintilantes de rainhas da beleza com cabelos de ondas sumptuosas, apresentadoras de TV e celebridades locais, era um sinal de status.
E Maurício, luminoso e sempre sorridente, continuava a somar: ia assinar contrato com os produtores do concurso Miss Universo e com a marca de lingerie de luxo Victoria"s Secret. Tudo corria às mil maravilhas, a radiar, e as contas no banco do mago das tesouras engrossavam e ultrapassavam o meio milhão de dólares.
Mas subitamente, a 22 de novembro de 2021, como uma nuvem intempestiva e fulminante que chega de nenhures e tapa tudo como um borrão, surgia a notícia: Maurício suicidara-se. E deixara um bilhete escrito à mão. A nota era breve, vaga e misteriosa. Dizia: "Eu amo-vos, perdoem-me, não aguento mais. Deixo tudo aos meus sobrinhos e irmãos. Com todo o meu amor, perdoa-me mamã".
O pormenor que intrigou a Polícia
Mas a onda de choque não ficou por aqui, cresceu e abalroou a Colômbia, que reagiu coletivamente aturdida, sem saber o que pensar na comoção social: afinal, antes de se matar, espetando uma faca na barriga como num haraquiri, que é a forma singular de suicídio entre os guerreiros japoneses caídos em desgraça, que assim se matam para recobrar a sua honra, dizia a notícia que Maurício também assassinara a sua mãe, Marleny Hernández. E que usara a mesma faca, que lhe espetou várias vezes no peito, perfurando-lhe mortalmente o coração.
A cena do crime era sinistramente tranquila: o corpo de Maurício e da mãe foram encontrados lado a lado, muito repousados e compostos, deitados na cama do quarto dele na casa de três andares, no belo e abastado bairro de La Calera.
Junto aos dois corpos havia um telemóvel, o bilhete manuscrito do suposto suicida e uma caixa de comprimidos de zopiclona, um medicamento hipnótico usado para induzir e manter o sono.
Mas aquele quadro sinistro tinha um pormenor de irrealidade que intrigou todos os policiais: enquanto o corpo de Maurício estava empapado em sangue, os lençóis manchados e a escorrer, o da sua mãe, posto muito direito ao seu lado, estava enxuto, exangue, sem pinta de plasma, como se a mulher estivesse sido posta ali e estivesse só a dormir.
Jhonier, o irmão na sombra de Maurício, entra em cena
Mas agora, dois meses depois desse pequeno tsunami psicossocial que é a morte de uma celebridade, uma morte horrível que meteu ainda o homicídio da sua mãe, o caso deu uma abrupta guinada.
A viragem é de 180 graus e introduz uma nova personagem principal: Jhonier Leal, o irmão mais velho de Maurício, também filho de Marleny, um irmão que vivia na sua sombra fraternal, sem sorte, sem fama e sem negócios a cintilar, foi Jhonier, afinal, que assassinou os dois.
Jhonier Leal, 49 anos, já confessou tudo e já ouviu isto da boca do promotor delegado do Ministério Público de Bogotá, que continua a investigar o crime. "Sr. Jhonier, o crime perfeito é uma coisa que não existe".
Com esta frase, dita 8 horas depois de um interrogatório cerrado em que o espírito de Jhonier se quebrou, a equipa de investigação do Ministério Público continua a reunir provas que hão de atestar que Jhonier é o autor do duplo homicídio.
O homem foi presente ao juiz esta segunda-feira, aceitou as acusações que lhe fez a Procuradoria Geral da República da Colômbia e reconheceu ser ele o responsável pelos crimes que continuam a abalar o jet set de Bogotá.
Homicida confessa para ver se reduz a pena
Jhonier já falou: "Primeiramente tive a oportunidade de falar com o meu advogado e, após ser devidamente aconselhado, tomei uma decisão super importante e muito pessoal, livre e voluntariamente, de aceitar as acusações através de um acordo com o Ministério Público".
E continuou a falar, como se lesse um texto ensaiado: "Aproveito a oportunidade de fazer a minha declaração de arrependimento para pedir perdão. Em primeiro lugar, peço perdão à minha família e aos meus filhos. Peço perdão às vítimas. E ainda a toda a Colômbia pelos factos ocorridos", disse Jhonier. E ressalvou que nunca mais investiria numa situação de tal magnitude novamente.
Durante a audiência, o Ministério Público apresentou provas devastadoras que levaram o homem de 49 anos a procurar esse acordo, com o qual espera que a sua pena de prisão possa ser reduzida.
O juiz agradeceu a Jhonier a sua honestidade em aceitar as acusações, e isso evitará desgastes desnecessários no sistema judiciário, sublinhou.
Mas o promotor responsável pelo caso foi enfático e apontou que o acordo firmado com Jhonier "não será uma festa de saldos, e que o caso terá uma pena dura e difícil". Acrescentou que "esta pessoa representa um perigo para a sociedade pela natureza dos atos e pela crueldade com que cometeu os crimes", disse o juiz, citado pelo jornal "El Tiempo".
Os cinco erros cometidos pelo assassino
As provas são devastadoras e a partir delas pode inferir-se, com razoável certeza, que Jhonier matou os seus parentes e que o fez com requintes de sevícia malvadez, diz o juiz.
O Ministério Público reuniu cinco tipos de provas, que são os cinco erros cometidos por Jhonier. O primeiro diz respeito a duas facas e às feridas no corpo de Maurício Leal.
Os investigadores encontraram as duas armas brancas usadas na cena do crime. Uma deles, uma longa faca de cozinha, foi usada primeiro para matar Marleny, a mãe do homicida. Depois, a mesma faca foi usada no irmão. Mas, no meio daquilo que terá sido uma cena de bulha e grande conturbação, a lâmina dessa faca partiu-se e ficou agarrada e incrustada no corpo de Mauricio.
O assassino usou essa arma para esfaquear inicialmente o peito, os braços e ainda a cara do seu irmão. Supostamente, quereria forçá-lo a escrever a carta de suicídio. Mas, como a lâmina se partiu, o assassino teve que descer de novo à cozinha para pegar noutra faca. Pelo caminho, com as próprias mãos golpeadas e em sangue, o homicida Jhonier escondeu o cabo partido da primeira faca debaixo de um travesseiro. Mas depois voltou ao quarto do crime e acabou o serviço.
A gota de sangue nas escadas que tramou Jhonier
Para o promotor do caso, escreve o jornal "El Tiempo", é claro que o assassino matou primeiro Marleny. Fê-lo no quarto dela, no terceiro piso da bela casa em La Calera. Em seguida, transferiu o corpo para o quarto de Maurcio, no andar de baixo.
O diabo é um pormenor: uma gota de sangue na escada e outra numa toalha encontrada na casa de banho usada por Jhonier, que também morava na mesma casa, comprovam a teoria.
Mas o facto mais forte é outro: enquanto o lado da cama de Mauricio estava cheio de sangue, o lado onde repousava o corpo de Marleny não - estava limpo e sem pinta de sangue.
O esfregão usado e o sifão ensanguentado
Também é agora claro que Jhonier limpou o sangue com uma esfregona e usou vários produtos de limpeza. Um sifão com vestígios de sangue, localizado na banheira da sua casa de banho, foi analisado pela polícia. E a esfregona, limpa a olho nu, também foi encontrada na varanda do quarto de Jhonier.
Foi a empregada da casa que alertou para o facto: a esfregona costuma estar na casa de banho, nunca na varanda da casa, mas foi aí que foi achada pelos investigadores.
Imagens das câmaras também dão provas
Vídeos das câmaras de vigilância, que mostram as entrada e saídas do complexo habitacional Arboretto Bosque Residencial, provam que as únicas pessoas que estavam na casa n.º 18 naquele fim de semana dos crimes, sábado, 20 de novembro, e domingo, dia 21, eram Mauricio, Marleny e Jhonier.
Todas as imagens foram analisadas e dado o nível de vigilância e segurança deste exclusivo complexo residencial, seria totalmente impossível, diz a investigação, que alguém que não os moradores pudesse entrar sem ser notado.
E por fim: a estranha disposição dos corpos
Outra prova conclusiva do Ministério Público colombiano é o esboço que os peritos fizeram da luxuosa mansão, do quarto onde ocorreram os factos e da forma como os corpos foram localizados na cama de casal do quarto de Mauricio Leal.
Os investigadores conseguiram apurar que o corpo de Marleny foi transferido do terceiro andar, onde ficava o quarto dela, para o segundo, onde foi deixado sem sem vida e onde também ficava o quarto de Jhonier.
O esboço mostra também que os corpos mortos de Maurício e Marleny foram cuidadosamente colocados na cama e rodeados por vários itens, tais como um telemóvel, a alegada carta de suicídio e a caixa de comprimidos que o cabeleireiro das celebridades terá sido forçado a tomar antes da sua horrível morte.
E agora há outro crime: Maurício andava na droga
O caso, altamente comocional, continua a ter grande repercussão na imprensa. Mas agora, a investigação do duplo crime deu origem a um segundo processo que ninguém adivinhava: branqueamento de capitais e enriquecimento ilícito. Desta vez, o acusado é Maurício Leal.
Segundo o Ministério Público, o ilustre cabeleireiro das celebridades, que nasceu em Cali, um lugar ardente, berço da salsa, e uma colmeia cultural onde também prevalece o negócio da cocaína, como escreve o jornal espanhol "El País", tinha ligações com o tráfico de drogas.
Maurício tinha aberto recentemente três contas no banco com mais de meio milhão de dólares. Durante meses, uma quantia quase diária de 50 mil dólares era depositada nessas contas.
A polícia acredita que o negócio do estilista capilar, por mais dinâmico que fosse, não conseguiria gerar valores de ordem dos 50 mil dólares por dia. A polícia suspeita, então, que Maurício trabalhou para La Gran Alianza, o sinistro sindicato de vários traficantes de drogas de Cali.
As autoridades estão agora a aplicar aos bens do cabeleireiro a extinção do domínio, uma figura legal destinada à expropriação dos bens de pessoas envolvidas em atividades ilícitas.
Solteiro, célebre e sem filhos, Maurício acumulou grandes quantias em dinheiro, uma casa avaliada em mais de um milhão de dólares e um negócio que cintilava a todo vapor.