Em termos republicanos, não é apenas o horizonte do presidente norte-americano, Donald Trump, que se apresenta turvo.
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A pouco mais de uma semana das eleições presidenciais - o escrutínio é a 3 de novembro -, além do chefe de Estado, também o partido enfrenta sérias dificuldades. No caso, para manter a maioria no Senado, cenário considerado vital para controlar os passos do eventual vencedor democrata, Joe Biden. Os próprios doadores começam a desviar fundos da campanha presidencial republicana para aplicá-los na dos senadores, atualmente considerados uma aposta mais segura e que estão em modo "cada um por si" e menos preocupados em adivinhar quem irá habitar a Casa Branca.
A batalha - tanto de Trump como dos seus correligionários - afigura-se problemática. Alguns senadores têm-se afastado do presidente - cada vez mais numa "roda livre" de consequências imprevisíveis -, principalmente devido à desastrosa gestão da pandemia de covid-19 e ao impacto que parece ter tido no eleitorado, enquanto os democratas organizam campanhas pujantes em estados considerados fulcrais.
Além disso, a decisão de indicar a juíza Amy Coney Barrett para o Supremo Tribunal tão próximo das eleições representou um acréscimo de pressão sobre os republicanos.
Tanto é assim que até o senador Lindsey Graham - cuja importância pode ser medida pela circunstância de presidir às audições de confirmação de Barrett - se vê a braços com uma inesperada disputa renhida na Carolina do Sul, contra um rival democrata surpreendentemente bem financiado.
Presentemente, os republicanos têm uma vantagem de 53-47 no Senado, mas as sondagens indicam que estão prestes a perder quatro e que, noutros cinco estados, a luta é voto a voto.
Se os democratas ganharem três lugares e a Presidência a 3 de novembro, o partido terá o controlo do Senado, já que a vice-presidente, Kamala Harris, teria voto de qualidade numa situação de empate por ser, por inerência, presidente do Senado.
"Banho de sangue", avisa Cruz
"Estou otimista", já se atreve a dizer o senador democrata pelo estado do Delaware, Chris Coons, aliado de Biden. "Acho que, se as eleições se realizassem hoje, conseguiríamos o controlo do Senado". O "site" de análise estatística FiveThirtyEight.com dá-lhe alguma razão, ao colocar as hipóteses de os democratas recuperarem a câmara alta em 68%.
Até mesmo o senador conservador Ted Cruz, leal a Trump, está em alerta, avisando que "os republicanos poderão enfrentar um "banho de sangue" de proporções do "Watergate" [escândalo que resultou na demissão do presidente republicano Richard Nixon, em 1974] no próximo mês".
Curiosamente, o senador com mais probabilidades de perder o assento é um democrata, Doug Jones, do estado conservador do Alabama. Mas, fora este caso, os democratas preveem vitórias.
Arizona, Colorado e Maine mostram preferência pelo Partido Democrata há meses e os republicanos temem que os respetivos candidatos estejam a ser afetados por um presidente que muitos consideram "tóxico".
Em debates recentes com rivais democratas, os senadores Martha McSally, do Arizona, e Cory Gardner, do Colorado, foram questionados sobre se tinham orgulho em apoiar Trump. Ambos responderam evasivamente. "Estou orgulhosa de lutar pelo Arizona todos os dias", disse McSally, uma antiga piloto da Força Aérea, que está oito pontos atrás do ex-astronauta Mark Kelly nas sondagens.
Susan Collins, do Maine, rompeu com Trump por ser contra a indicação de Barrett para o Supremo Tribunal numa data tão próxima das eleições. Ainda assim, a sua rival democrata e presidente da Câmara de Representantes do estado, Sara Gideon, lidera todas as sondagens estatais.
A Carolina do Norte também está a inclinar-se para a esquerda. O senador republicano Thom Tillis, diagnosticado com covid-19, tem um atraso de cerca de quatro pontos para Cal Cunningham, apesar de o rival democrata estar envolvido num escândalo de "sexting" (envio de mensagens de teor pornográfico).
Aliás, pertence a Tillis um resumo exemplar do presente objetivo primordial dos senadores republicanos. Ao site "Politico", disse: "O melhor controlo sobre uma Presidência Biden é nós conservarmos a maioria no Senado".
O que não falta é dinheiro
No entanto, o mapa da câmara alta favorece os democratas, que apenas têm de defender 12 lugares nas eleições deste ano, contra 23 dos republicanos. Mesmo assim, até mesmo estados como Iowa, Geórgia, Carolina do Sul e Montana lhes podem "cair no colo", o que seria considerado extraordinário.
Numas presidenciais a todos os títulos caóticas, outros lugares podem estar, inesperadamente, em jogo, incluindo Texas, Alasca, Kansas e, inclusivamente, Kentucky, do líder da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell.
Todas estas movimentações não passam despercebidas aos doadores. Bem pelo contrário. Apesar de afirmarem que os senadores do Partido Republicano deveriam ser punidos por terem dado carta branca a Trump, vários milionários e multimilionários do Lincoln Project - o mais destacado grupo formado por republicanos que se opõem à reeleição do atual presidente - estão a investir fortemente. E, claro, não é no chefe de Estado.
Lugares em jogo a cada dois anos
Além do chefe de Estado, nas eleições presidenciais dos Estados Unidos vão a votos todos os membros da Câmara dos Representantes e um terço do Senado. No total, são eleitos 35 dos 100 senadores. No jargão político norte-americano, diz-se que o partido que tem mais assentos em jogo está na defensiva. Nestas eleições, 23 daqueles lugares são republicanos. Levando em consideração as sondagens e o contexto político de cada estado, pelo menos 12 estão em perigo e os democratas só precisam de quatro para recuperar a maioria. Se vencerem as presidenciais, apenas necessitam de três. Cada estado pode eleger dois senadores. Como existem atualmente 50 estados, o total é, então, os já referidos 100. O mandato de um senador é de seis anos, sendo que, a cada dois, são realizadas eleições para renovar cerca de um terço da câmara alta.
Pormenores
Obama volta ao palco
O ex-presidente dos EUA, Barack Obama, acusou o sucessor, o republicano Donald Trump, de nunca ter levado o cargo "a sério" e apelou à mobilização a favor do candidato democrata, Joe Biden. "Não é um "reality show", é a realidade", vincou, em Filadélfia, acrescentando que os norte-americanos têm de "viver com as consequências" das decisões de Trump. ""Tweetar" enquanto se vê televisão não resolve os problemas"
Triunfo republicano
Os republicanos do comité judiciário do Senado dos EUA conseguiram levar à votação em plenário a nomeação da juíza Amy Conney Barrett para o Supremo Tribunal, na próxima segunda-feira.